São Paulo, domingo, 24 de setembro de 1995 |
 |
|
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Aluno ruim, Pasteur só era notado como mestre no desenho em pastel
JOSÉ REIS
A mãe, Jeanne-Etiennette Roqui, era trabalhadeira, dedicada ao lar e, ao mesmo tempo, comunicativa, alegre, de imaginação viva e cheia de entusiasmo. Segundo diria Pasteur, "devo tudo a ele", referindo-se naturalmente ao zelo paterno por seus estudos. Na escola primária e no ginásio, Pasteur não se destacou como aluno, salvo no desenho, pois cedo se revelou verdadeiro mestre no pastel, havendo deixado vários retratos muito bons, inclusive do pai e da mãe. O diretor do ginásio de Arbois desejava que ele fosse para a École Normale, mas o sonho paterno era vê-lo professor no ginásio de Arbois. Em outubro de 1838, ele foi para Paris, onde passou a residir no internato Parbet, que alojava os estudantes do ginásio Saint-Louis. Mas o jovem detestou o lugar, além de sentir muita falta do lar, e o pai foi buscá-lo de volta. Retornou ao ginásio de Arbois, onde continuou a distinguir-se pelos desenhos, mas aos poucos começou a manifestar gosto pelas ciências. Para completar os estudos foi para Besançon, de onde escreveu às irmãs: "Recomendo mais uma vez que trabalhem e se amem; com a ciência nós nos elevamos acima de todos os outros." Naquela cidade frequentou as aulas de matemática especial e, em 1841, era "maître d'étude" (mestre de estudos) com o salário de 300 francos. Em 1842 foi aceito na École Normale de Paris, porém, como se classificou em 14º lugar entre 22, preferiu passar mais um ano se preparando no internato Barbet, afinal alcançando o 4º lugar na prova de admissão no ano seguinte. Seu primeiro ano de estudo na École foi decisivo para sua carreira. Ao mesmo tempo que acompanhava sua classe no Liceu Saint- Louis, procurava frequentar a Sorbonne, onde entrou em contato com grandes nomes, especialmente com o químico J.B. Dumas. Outros mestres que nele influíram foram Balard, Baruel e, em particular, Delafosse, que o introduziu na cristalografia. Mas foi Auguste Laurent que o familiarizou com o microscópio e os pormenores da cristalografia, que o apaixonou a ponto de, em pouco tempo, ele fazer descoberta fundamental, que lhe deu fama. Sabedor de sua propensão para a química, o pai escreveu: "Fala-nos sempre de teus estudos, mas não esqueças a matemática, se uma ciência não atrapalhar a outra, melhor será para ti." Pasteur saiu da École Normale como "agregé" (agregado) em ciências físicas e doutor com uma tese sobre polarização rotatória nos líquidos. Em 1848, vibra nas ruas de Paris com a causa da República e deixa no altar da Pátria tudo o que no momento possuía -150 francos. Sua descoberta sobre a assimetria molecular colocou-o de súbito nos píncaros da glória. As experiências com o tartarato de sódio e amônio foram controladas por Biot, do Collège de France que, diante da demonstração, disse: "Meu caro, tanto amei as ciências em minha vida que isso me faz palpitar o coração." Apesar do reconhecimento de sua capacidade, não lhe foi fácil inicialmente conseguir lugar para trabalhar como pesquisador. De começo, o mais que obteve foi um sótão onde improvisou laboratório. Mais tarde conseguiria dois assistentes, Raulin e Duclaux. Aos poucos, todavia, as coisas foram melhorando, e ele esteve em Estrasburgo e Lille para retornar mais tarde à École Normale. Em laboratórios precários, Pasteur realizou experimentos cruciais, como a fundação da microbiologia, o estudo das fermentações, a descoberta da vacinação bacteriana (cólera de aves), combateu as doenças do bicho-da-seda e da uva, ponto culminante, a vacinação anti-rábica. Não aceitava a diferença entre ciência pura e aplicada: "Só existem a ciência e as aplicações da ciência". Texto Anterior: Conheça outros lançamentos Próximo Texto: Pasteur vira 'griffe' Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |