São Paulo, domingo, 24 de setembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Depois da decadência

MARISA ADAN GIL

A televisão não tem sido justa com Adriana. Em carne e osso, sua beleza é impressionante, um susto para quem a conhece apenas da telinha. Pele perfeita, olhos de mel e sorriso infantil brigam com corpo de mulher e voz grave.
"Ela seduziria até um poste". Adriana se refere a Carla, sua personagem na minissérie "Decadência", exibida até a última sexta-feira.
Ovelha negra de uma família de classe média, ela vivia um intrincado caso de amor com o pastor Mariel (o protagonista, vivido por Edson Celulari). "Como o personagem ia amadurecer ao longo da série, pude trabalhar as contradições. Ela era tão madura na hora de tomar decisões, mas fazia uma cagadinha e ia chorar no colo da irmã".
Além de marcar o retorno da atriz, longe da TV há dois anos, a série levantou uma das maiores polêmicas do ano, envolvendo seitas evangélicas, bispo Edir Macedo, Igreja Católica, Record e Globo. "Mostramos o que acontece realmente nessas igrejas", acredita Adriana. "A denúncia é positiva. O poder deles é assustador, gigantesco".
Da meiga à militante Com a personagem Carla, Adriana trocou a meiga-com-segundas-intenções pela bonitinha-mas-militante. "É outro tipo de romantismo", diz. A distância entre atriz e personagem é grande. "Minhas amigas dizem: 'nossa, Adriana, como ela é poderosa. Se você fosse assim na vida...'.
Na vida, a atriz usa o poder de que dispõe para juntar os cacos: foi o que sobrou, depois de um ano de depressão profunda. "É engraçado eu falar disso hoje", diz, embaraçada.
É a primeira vez que ela vem a público contar os verdadeiros motivos da crise pós-"Renascer", que tomou quase todo o ano de 94. "Fico até emocionada, nunca pensei que fosse falar sobre isso com essa naturalidade. Quando você está sofrendo, acha que é tão doloroso que nunca mais vai passar. Mas passou."
Em 94, espalhou-se o boato de que a atriz estava deprimida por causa das críticas negativas ao seu trabalho em "Renascer", a novela-fenômeno da Globo que conjugou audiência (média de 63 pontos no Ibope, mais de 2.500.000 domicílios) e polêmica (à base de hermafroditas, sugestões de incesto e sexo à vontade).
"Talvez eu esteja me abrindo agora por isso. Pra não parecer que 'a Adriana ficou doente porque recebeu uma crítica negativa.'
A crise veio, na verdade, meses depois da novela -já em 94 e em plena temporada de "A Falecida", de Gabriel Vilella, sua estréia no teatro adulto. Em questão de meses, a atriz perdia três amigas, todas da sua idade. A dificuldade em falar do assunto é evidente: fica monossilábica.
Desvia o assunto do particular. Começa a falar de morte, de Aids. "Se você tem uma sensibilidade um pouco maior, sente as coisas gravíssimas que acontecem com o mundo. Essa peste louca que está matando todo mundo, que vem e te atinge. Sinto a dor pelo todo."
A dor era, até bem pouco tempo, uma estranha. "Minha mãe não dava bichinho de estimação pra gente não sentir quando ele morresse", conta. "Nunca tinha tido problemas na vida. Fui um pouco protegida."
Some-se a isso uma disciplina férrea, auto-imposta desde os 9 anos. "Tudo o que eu queria era ser bailarina clássica. Tinha uma bolsa

Texto Anterior: Ela tem um vício do bem
Próximo Texto: Depois da decadência
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.