São Paulo, domingo, 24 de setembro de 1995
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Depois da decadência

MARISA ADAN GIL

num centro de dança, mas precisava manter as notas altas. Sem dotes físicos de bailarina, tive que me esforçar muito. Sempre fui caxias."
A perda inesperada jogou tudo por água abaixo: disciplina, auto-estima, referências afetivas. "Você fica sabendo que uma amiga sua morreu, e aí? Morreu por quê? Por que eu estou aqui? Como é que eu estou aqui? Será que eu sou o que falam de mim, ou outra pessoa?"
Retiro em Sampa
Detalhes, ela não conta. Sabe-se que trocou o Rio por São Paulo, onde "sumiu, permitindo a aproximação de cinco pessoas: os pais, dois amigos íntimos e o segundo marido, Marco Ricca, que conheceu durante as gravações de "Renascer".
"Esse homem caiu do céu pra mim", diz, jogando a cabeça para trás. E não saiu mais do seu lado. "Na alegria e na tristeza", completa, como quem repete um mantra.
A crise a levou a um terapeuta (junguiano), um médico e a uma complicada convivência com a morte. "Ainda não lido bem com isso. É um mistério muito grande. Em algum momento pensou em suicídio? "Muito pessoal essa pergunta."
Menos "intensa"
Submetida a dois tratamentos, Adriana fez direitinho a lição de casa. "Aprendi a não me levar tão a sério". E a não ser tão "intensa". "Não resolvi tudo, mas estou fazendo um grande esforço, mudando umas coisinhas na minha rotina."
Adotou algumas regras básicas: 1. não querer abraçar o mundo -hoje seus amigos cabem nos dedos de uma mão; 2. não colocar emoção demais no lugar errado. Trabalho, por exemplo. "Não posso viver um ano em função de uma novela. Nem levar tão a sério as críticas."
Foi um caso raro de unanimidade. Sua atuação como a espevitada Mariana, que seduzia simultaneamente pai (Antonio Fagundes) e filho (Marcos Palmeira) em meio a pés de cacau foi reprovada pela crítica especializada, entre adjetivos como "insossa" e "inexpressiva". Adriana até ensaia uma auto-crítica, mas esbarra na auto-indulgência.
"Não estou dizendo que fui injustiçada, que o trabalho era maravilhoso e falaram mal. Nem tinha como ser maravilhoso, não tenho tanto tempo de estrada. Agora, todo mundo no país inteiro dizer que era horrível já é loucura."
Piveta sedutora
Ela acredita que foi vítima da velha confusão entre atriz e personagem. "Nossa população é muito conservadora, machista. Aí vem aquela piveta, seduzindo aquele coroa, que é um grande ator, e um homem muito bonito... As pessoas começam a ter ódio do personagem, e transferem para a atriz."
Superexposição, acrescenta, é um erro primário em televisão. "Fiz uma novela atrás da outra. Aí fica aquela coisa. Adriana, de novo? Por que não botaram outra atriz?"
Culpada ou inocente, a namorada de "Painho" ganhou uma segunda chance de julgamento: a novela está sendo reprisada nas tardes da Globo (segunda a sexta, 14h20). "Eu estava assistindo hoje com a minha mãe", diz. "Aquela menininha, queimadinha, deitada no colo do Antonio Fagundes, falando aquelas besteirinhas. É de uma alegria, de uma leveza! Acho o meu melhor trabalho."

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