São Paulo, domingo, 24 de setembro de 1995
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Depois da decadência

MARISA ADAN GIL

A passagem da Bandeirantes para a Globo foi um fracasso. Chamada para apresentar "Controle Remoto", quadro que abria o "Domingão do Faustão", naufragou. "Era horrível!" Perceberam o erro e chamaram uma dupla de comediantes.
Desempregada, Adriana foi parar nas mãos do diretor de novelas Ricardo Waddington. "Fui fazer um teste para a novela 'Top Model'. Nunca agarrei tanto uma chance na minha vida como aquela."
Orgasmo em cena
Ao contracenar, sentiu seu primeiro "orgasmo". "Só quem é ator sabe o que é isso na profissão". Sua meiguice chorosa ganhou os telespectadores da novela das sete em 1989. O passo seguinte foi seduzir o pai da melhor amiga (José Mayer) em "Meu Bem, Meu Mal (90/91)."
Virou protagonista com "Pedra sobre Pedra" (92), último exemplar de realismo fantástico a passar pelo horário nobre. Ali, vivia um "Romeu e Julieta" particular ao lado de Maurício Mattar. Sem pausa para respirar, cortou o cabelo e as saias e engatou uma "Renascer". "Quando terminei as gravações, percebi que tinha feito quatro novelas seguidas. Decidi que não faria outra tão cedo."
Antes da crise de 94, ainda teve tempo de recusar o convite para viver a insaciável Babalu em "Quatro por Quatro" (personagem que rendeu o estrelato à ex-paquita Letícia Spiller). Em vez disso, pediu a Gabriel Vilella um papel no teatro.
Coincidência ou não, o palco a colocou cara a cara com a morte. Em "A Falecida", de Nelson Rodrigues, uma dona de casa tenta compensar a vida sofrida que leva encomendando um enterro de luxo.
"A Dama e o Vagabundo"
"Eu estava encantada com a unidade do trabalho do Vilella, depois de ver 'Vem Buscar-me Que Ainda Sou Teu'", conta Adriana. Em "A Falecida", encenada em fevereiro do ano passado, ela ganhou quatro papéis pequenos, três deles masculinos.
Dois anos antes, havia feito a infantil "A Dama e o Vagabundo". A entrada discreta no teatro adulto foi proposital. "Foi melhor assim", diz.
Depois de abocanhar prêmios por aqui (Molière, Sharp), a peça estrelada por Maria Padilha foi parar no festival de Viena. "Viajar para fora com o teatro foi demais."
O que mais a cativou foi o trabalho em grupo. "Na TV, não existe o período de ensaio, que para o teatro é fundamental. Então, você conhece o ator, 'muito prazer', vai fazer a cena. As pessoas são funcionárias de uma empresa, não um grupo com um objetivo comum."
Coisa de grupo
Gerald Thomas e Antunes Filho no teatro, Carla Camurati e Walter Rogério no cinema: Adriana gostaria de trabalhar com todos eles, e mais. Produzir, achar sua turma, talvez até entrar num grupo de teatro. "Gosto muito da coisa de grupo. Mas o que mais queria, agora, era um longa."
Novela, só no ano que vem. Por enquanto, arruma o apartamento novo (trocou a Barra pela Lagoa) e tenta aprender a conviver com a solidão. "Descobri que o ser humano é só. Você só tem consciência disso quando passa por dores muito graves. Ninguém sofre a tua dor."
Volta a se iluminar ao falar da sua paixão atual, Marco Ricca. "O casamento meio que disfarça isso. Ele te confunde e, de repente, você é só, mas não tão só. "

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