São Paulo, terça-feira, 26 de setembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Nova Lei Agrícola não deverá ameaçar esquema de subsídios

JOSÉ ELI DA VEIGA
ESPECIAL PARA A FOLHA, DOS EUA

O sexagenário esquema de proteção da agricultura norte-americana não está ameaçado pelo empenho da maioria republicana em cortar o déficit orçamentário.
A redução dos subsídios será muito menor do que andaram espalhando as agências de notícias.
As subcomissões da Câmara e do Senado propuseram cortes nos gastos com a política agrícola, que variam entre US$ 9 e US$ 13 bilhões, a serem distribuídos pelos próximos sete anos.
A proposta mais severa, lançada no início do ano pelo novo presidente da Comissão de Agricultura do Senado, Richard Lugar, sojicultor de Indiana, previa corte de US$ 15 bilhões em cinco anos.
As reduções deverão incidir basicamente sobre o montante dos subsídios que os participantes dos programas da CCC (Commodity Credit Corporation) recebem a título de "deficiency payments".
Isto é, a diferença entre o preestabelecido pela lei agrícola (target price) e o vigente no mercado no momento de saldar o crédito de custeio.
Lugar queria que no próximo quinquênio os preços-alvo recuassem a uma taxa de 3% ao ano. O mais provável é que esse ritmo venha a ser bem moderado, talvez inferior a 2% ao ano até 2002.
Para que os gastos com a sustentação de preços diminuam US$ 10 milhões nos próximos sete anos, a poda do orçamento anual da CCC deve ser, em média, de US$ 1,5 bilhão.
Uma boa lasca, pois este ano seu dispêndio atingirá US$ 15,5 bilhões. Mas, uma migalha perto do gasto total com o agribusiness, que será, em 95, superior a US$ 69 bilhões, mais da metade com subsídios ao consumo alimentar.
O mecanismo de proteção à agricultura, criado em 1933 pelo New Deal, perdeu há muito tempo sua virtude original. Mas vem resistindo a ameaças de reforma desde o final da Segunda Guerra.
Tudo indica que não será desmontado neste milênio, pois a Lei Agrícola manterá o status quo, apesar dos republicanos.
A troca da sustentação de preços por esquemas mais adequados de garantia da renda dos agricultores nem está presente na agenda dos debates.
A maioria republicana parece estar muito mais determinada em cortar as asas do lobby agroambiental, do que em dificultar a vida dos deputados e senadores dos dois partidos que defendem os interesses específicos de sólidas mesocorporações, organizadas em torno do trigo, milho, soja, leite, algodão, arroz, açúcar e tabaco, para citar apenas as mais preocupadas com a nova lei.
E nem sempre seus interesses particulares são opostos aos interesses mais gerais defendidos por organizações de consumidores ou campanhas de contribuintes.

Texto Anterior: Arroz deve perder 156 mil ha no RS
Próximo Texto: Kansas terá forte influência
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.