São Paulo, terça-feira, 26 de setembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Recessão e desemprego

CLAUDIO MONTEIRO CONSIDERA

Criou-se no Brasil, no período recente, a mística de que estamos em recessão. Mais do que isso, acusa-se aqueles que falam em desaceleração de estar querendo iludir o público com uma diferença que é apenas semântica. É aconselhável que a discussão seja tratada com informações, e é para o setor industrial que elas estão disponíveis em quantidade e qualidade.
Ninguém ignora que a taxa de crescimento do produto industrial de 16,5%, no período pós-Real (julho-dezembro), seria insuportável para qualquer economia. Isso só foi possível por quatro razões: a existência de capacidade ociosa, a abertura econômica e nosso nível de reservas, que possibilita a importação de matérias-primas, o contingente de desempregados e a elevação da produtividade.
O Real, ao contrário do que seus críticos previam, não foi recessivo. Expandiu a produção em níveis acima dos suportáveis para o objetivo de estabilidade e equilíbrio do balanço de pagamentos.
Era necessário desacelerar o crescimento, ou seja, trazer a produção para um nível compatível com a capacidade produtiva, que era inferior àquele a que se havia chegado. Isso significaria reduzir o nível de produção e fazê-la crescer "pari passu" com o crescimento da capacidade produtiva e da capacidade de importar insumos necessários àquela produção.
Após quase seis meses de política contracionista, a redução do nível de atividade econômica se fez em ritmo acentuado nos meses de abril, maio e junho; em julho, o nível de produção se tornou inferior em 13% ao de dezembro, mas ainda 1,4% superior ao de junho de 94. Em média, os primeiros sete meses deste ano apresentaram um crescimento 2,2% superior ao dos últimos sete meses de 94.
A partir de agosto, a política econômica mudou. As primeiras informações sobre a produção industrial já mostram sinais claros de inversão de rumo: a produção de automóveis voltou a apresentar recorde, enquanto a de eletroeletrônicos domésticos já tinha voltado a crescer desde julho, bem como as de aço e cimento, que bateram recordes em julho.
Fica evidente que, por nenhum parâmetro, é possível dizer que a economia esteja em recessão. O PIB deverá crescer neste ano acima de 5%, com a indústria crescendo em torno de 5,5%.
É fato também que atividade econômica e emprego estão associados, embora em qualquer economia em desenvolvimento o emprego cresça sempre menos que a produção, pois uma característica do desenvolvimento econômico é o aumento da produtividade.
Isso não significa desemprego. O segredo aritmético disso é que ambos crescem, embora a produção cresça mais que o emprego. O segredo econômico é que o aumento da renda per capita eleva a demanda por bens e serviços e, portanto, o emprego, além de criar atividades econômicas anteriormente inexistentes. Assim se tem passado desde a Revolução Industrial até o presente momento.
É esperado, portanto, que, para um nível de atividade menor, o nível de emprego se reduza. Segundo a Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, o emprego na indústria geral (extrativa + transformação) brasileira e, em especial, na paulista, apresentou crescimento continuado desde o início do Real, fenômeno que não se observava desde 1990: de julho de 1994 até maio deste ano cresceram, respectivamente, 3,4 e 4,7%, apresentando a primeira queda em junho (-1,5 e -1,3%, respectivamente).
Esses números referem-se a pesquisas realizadas por amostra junto às empresas industriais, baseadas em um painel fixo, referentes ao Censo Industrial de 1985.
Por sua vez, se tomarmos as informações da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, baseada em amostra de domicílios, verifica-se que o emprego na indústria brasileira e na paulista aumentou 7,6% e 7,1%, respectivamente, desde o início do Plano Real até março de 95. A redução que se observou desde então não anulou aquele crescimento: o nível do emprego em julho é ainda 2,6% e 3,6% superior ao de junho de 1994.
Na mesma pesquisa verifica-se, ainda, que a evolução do número de pessoas empregadas nas atividades urbanas da indústria de transformação, construção civil, comércio e serviços, tanto para o total do Brasil como para São Paulo, é, contrariamente ao que se tem alardeado, continuamente crescente desde o início do Real: em julho deste ano, a população ocupada era 4,3% (Brasil) e 5,3% (São Paulo) superior à de junho do ano passado, representando, respectivamente, mais de 650 mil e 350 mil novos postos de trabalho.
A conclusão a que chegamos ao final desses números é que o título do artigo era apenas um engodo para os nossos eternos pessimistas. Lamentamos anunciar que não há recessão e que o desemprego, herdado de políticas econômicas demagógicas, está diminuindo.

Texto Anterior: Agressões ao real: compacto dos piores lances
Próximo Texto: Bolsa mexicana acumula perda de 4,3%
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.