São Paulo, terça-feira, 26 de setembro de 1995
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Fazenda e Planejamento; Picadinho; Círculo vicioso; Desmunhecar; Elizabeth Bishop; Decadência; Defesa dos magros; Belzebu; Bráulios

Fazenda e Planejamento
"Em nenhum momento afirmei a este jornal e a ninguém que está havendo uma 'eleitorização da economia' ou que a ambição dos políticos é incompatível com a austeridade econômica. Para evitar que outros acidentes como esse venham a se repetir, quero deixar claro que nenhum dos membros da minha equipe está autorizado a falar em meu nome sobre matéria de natureza política."
Pedro Malan, ministro da Fazenda (Brasília, DF)

Resposta do jornalista Valdo Cruz - As informações foram passadas à reportagem da Folha por assessores diretos de Malan como uma avaliação do ministro da Fazenda sobre as críticas à sua política econômica.

"A matéria 'Aumenta a resistência a Malan dentro do governo', publicada na edição de 24/9, contém alusão a supostas ações ou frases atribuídas ao ministro do Planejamento e Orçamento, José Serra, que são absolutamente falsas. De duas uma: ou os jornalistas, que são profissionais responsáveis, deveriam ter citado a fonte que se esconde no anonimato ou ter ouvido o ministro antes de fazer afirmações a seu respeito. Já a matéria 'Serra, Malan e Clóvis disputam joguinho de poder', publicada na mesma edição, incorre em erro igual de elaboração. Ela se baseia em offs e versões, sem que tenha sido dada ao Ministério do Planejamento a oportunidade de se pronunciar. As improcedências são tantas que se torna impossível corrigi-las no pequeno espaço do 'Painel do Leitor'. Um exemplo pode ser tirado da frase: 'Nesta semana os representantes da Fazenda e do BC fizeram verdadeira campanha pelo avanço das privatizações'. Trata-se de um fato inexistente. Uma investigação mais equilibrada por parte do autor o faria saber que o ministro da Fazenda, Pedro Malan, o secretário de Política Econômica, José Roberto Mendonça de Barros, e a técnica Elizabeth Checkin, representantes do Ministério da Fazenda no Conselho Nacional de Desestatização, não apenas estão afinados com a política de privatização do governo como influem decisivamente em cada passo de sua formulação e de sua execução. Outro deslize do repórter diz respeito ao tamanho das despesas orçamentárias previstas para o ano que vem. Esse foi fixado conjuntamente pelos ministérios do Planejamento e da Fazenda e aprovado em reunião de ambos com o presidente da República. Para não incorrer em erro, o repórter deveria estar atento para o fato de que 81% da receita orçamentária é consumida em salários do funcionalismo federal, transferências constitucionais a Estados e municípios, benefícios previdenciários e juros."
Inácio Muzzi, coordenador de Comunicação Social do Ministério do Planejamento e Orçamento (Brasília, DF)

Resposta dos jornalistas Josias de Souza e Carlos Alberto Sardenberg - As críticas de José Serra a Pedro Malan e sua política cambial são feitas à sombra, longe de câmeras e microfones. O recurso ao anonimato das fontes é ferramenta do bom jornalismo, aquele que se propõe a noticiar bem mais do que meras declarações oficiais de assessores.

Picadinho
"Não há evidência que os 'economistas' não desmintam. Enquanto a manchete da Primeira Página da Folha de 22/9 afirma que a dívida pública interna cresceu, Mailson da Nóbrega diz exatamente o contrário no caderno Dinheiro: 'A dívida pública está em queda'. Isso não é 'feijão-com-arroz', é fazer picadinho da realidade."
Emir Sader (São Paulo, SP)

Círculo vicioso
"A ameaça da volta de Itamar Franco ao palco nacional conduz ao pensamento de que um círculo vicioso liga a incompetência com a impunidade dos políticos. A primeira produz uma sequência de caos, inúmeras medidas se alternando 'ad infinitum' com novos fracassos. Como consequência, o cidadão fica perdido, desorientado a respeito dos acontecimentos e seus criadores (quem já lembra quantos planos econômicos o país sofreu nos últimos dez anos?). A confusão concede anonimato e impunidade aos perpetradores das barbeiragens, animando-os a disputar novas eleições. Só uma imprensa viva pode cortar o nó górdio que nos amarra aos ACMs, Brizolas, Delfins, Itamares, Malufes, Quércias e Sarneys."
Hanns John Maier (Ubatuba, SP)

Desmunhecar
"Faz piadinha homofóbica o economista Gustavo Franco ao afirmar que 'elogiar o governo é como desmunhecar... Atrai para si suspeitas de peleguismo ou ingenuidade' (Folha, 24/9). O 'Aurélio' diz que desmunhecar é próprio dos 'maricas'. Ignora o diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central que o fato de o homossexual J. M. Keynes também desmunhecar não o impediu de se tornar um dos principais teóricos da economia capitalista?"
Luiz Mott, presidente do Grupo Gay da Bahia (Salvador, BA)

Elizabeth Bishop
"Parabéns pela bela matéria sobre Elizabeth Bishop e o Brasil, publicada no caderno Mais! de 24/9. Parabéns sobretudo pelo curto, porém impecável, texto de Joyce Pascowitch. Sinto, no entanto, a ausência dos filhos de Carlos Lacerda, Cristina Lacerda Simões Lopes e Sebastião Lacerda, que certamente têm muito de interessante a contar sobre isso."
Pedro Paulo de Sena Madureira (São Paulo, SP)

Decadência
"Dias Gomes conseguiu retratar com brilho a 'Decadência'; não a do país, mas talvez a sua, como escritor. Depois de trabalhos brilhantes como 'O Bem-Amado', 'Saramandaia' e 'Roque Santeiro', essa minissérie foi decepcionante. Trama sem brilho, repleta de situações forçadas e óbvias, personagens inconsistentes, desfecho medíocre. A culpa maior é da própria Globo, que resolveu lavar a roupa suja na cara do espectador, como se nós tivéssemos 'tudo a ver' com essa rixa imbecil com os tais evangélicos."
Jorge Lindemeyer (Curitiba, PR)

Defesa dos magros
"Como leitor assíduo e admirador dos artigos de Carlos Heitor Cony, apresento minha indignação pelo artigo de 22/9 em que defende os gordos e critica os magros. Nós, magros, não somos mal-humorados, somos confiáveis e sensíveis."
José Luiz C. Marins (Campinas, SP)

Belzebu
"Dorian Gray tornou-se refém do pacto que fez com Belzebu: vendeu-lhe a alma em troca da juventude eterna. A polêmica entre José Arthur Giannotti -aquele que fez de sua autoridade intelectual instrumento para justificar a aliança PSDB-PFL- e o senador Antônio Carlos Magalhães ilustra bem aquilo que o anjo dissidente é capaz de fazer quando se vê traído por aqueles que conquistaram a glória às custas do seu poder. Mas que Giannotti se tranquilize: não é nele e sim em FHC que o 'Todo Poderoso' -expressão usada pelo próprio senador- está batendo. Chantageáveis se tornam todos aqueles que fazem aliança com o diabo!"
Maria Aparecida Morgado (São Paulo, SP)

Bráulios
"Apesar da reação dos batizados com 'tais nomes' ter propiciado, voluntária ou involuntariamente, uma divulgação governamental muito mais eficaz, me parece despropositada a preocupação dos 'tais nomes' e faço coro à coluna de Hélio Schwartsman ('Os Bráulios e o governo) e à carta de Aurea Celeste Abbade, do Gapa. Principalmente porque os 'tais nomes' não perceberam que a eles, 'tais nomes', foi dada uma vantagem competitiva junto às mulheres."
Antônio Bernardes Morey Jr. (Campinas, SP)

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