São Paulo, quarta-feira, 27 de setembro de 1995
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Polícia e clubes brigam por causa das torcidas

RODRIGO BERTOLOTTO
DA REPORTAGEM LOCAL

O relacionamento entre Polícia Militar e dirigentes de futebol anda estremecido um mês após a briga de torcedores no Pacaembu, que matou 1, feriu 101 e possibilitou uma avalanche de medidas para frear a violência nos estádios.
A controvérsia começou quando a Federação Paulista de Futebol instituiu a Comissão Permanente Antiviolência, formada por Marco Polo del Nero, representante da FPF, e mais cinco dirigentes dos maiores clubes do Estado.
A comissão vai formular um relatório com medidas que, aceitas pela Federação, vão criar as novas leis do futebol em São Paulo.
Os líderes das torcidas uniformizadas se reuniram no último dia 19 com essa comissão.
As informações que saíram desse encontro descontentaram o comandante do policiamento em estádios de São Paulo, coronel Carlos Alberto de Camargo.
"Alguns representantes dos clubes na comissão estão dizendo uma coisa para nós e outra, bem diferente, para as organizadas", disse o coronel Camargo.
Para ele, a PM está assumindo o risco e a responsabilidade pelas novas medidas, enquanto os clubes estão voltando a acenar para as uniformizadas.
"Não queremos posições dúbias", afirmou Camargo.
A comissão discorda da PM. "Temos que ouvir as torcidas organizadas. Elas são filhas naturais dos clubes", disse Edgard Soares, vice-presidente do Corinthians.
O próprio Soares já foi membro da Gaviões da Fiel. "As organizadas são parte da cultura brasileira. Elas surgiram no começo do regime militar e era a única forma de associação que os jovens tinham."
Segundo ele, a comissão tem três soluções possíveis para o problema das torcidas: bani-las dos estádios, como vem acontecendo; impor novas regras, mais brandas que as atuais; ou adotar a chamada "solução inglesa".
Esta última é a formação de torcidas dentro dos clubes. O sócio-torcedor teria um título do clube, não teria direito às quadras e piscinas, mas poderia comprar o bloco de ingressos para todos os jogos de seu time na temporada.
"Vamos discutir e, em dois meses, finalizaremos o relatório. Não vai haver um 'canetaço"', disse.
Quanto à opinião da polícia, o dirigente corintiano diz que "é lamentável que a PM tente impor suas idéias dessa forma".
"A comissão não vai aceitar pressão da Polícia Militar ou das organizadas", afirmou.
A frase de Soares não agradou ao coronel Camargo. "Não admito que equiparem a PM às torcidas organizadas. Nós não estamos pressionando nada."
Por seu lado, a Associação de Torcidas Organizadas de São Paulo acredita em uma aproximação entre uniformizadas e clubes.
"Os clubes sabem a força que nós temos. Eles sabem que nós sustentamos o futebol nos últimos anos. É importante para os clubes a nossa volta", disse Cosmo Damião Freitas Cid, presidente da associação de torcidas.
A seu ver, o dirigente de clube que não se aproximar das organizadas "estará mostrando sua incompetência".

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