São Paulo, quarta-feira, 27 de setembro de 1995
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Bem ou mal, seleção tem que se reunir

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O Brasil volta a campo esta noite para enfrentar um arremedo de seleção romena. Ora, se a titular já não é lá essas coisas, que dirá um time arrebanhado aqui e ali, entre promessas do futebol romeno?
Isso é o que deve estar passando na cabeça da maioria dos torcedores e da crítica, não sem boa dose de razão. Há ainda os que vão além: para que arriscar nosso prestígio de tetracampeões do mundo e de líderes do ranking da Fifa há sei lá quanto tempo em joguinhos como esse?
Menos, gente, menos. Afinal, bem ou mal, presa ou não de um calendário infame, com ou sem seus principais jogadores, a seleção tem de se reunir periodicamente, ainda que na cabeça do cartola incompetente medrem apenas mesquinhos interesses pecuniários. E tem de jogar. E o técnico tem de fazer observações, sentir de perto quem é quem, aquele que revela espírito de seleção, aquele outro que pode ser adaptado numa função que não cumpre em seu clube de origem etc.
É bem verdade que Zagallo, embora louvado por ter reimplantado um estilo mais ofensivo, continua com o mesmo defeito dos tempos pós-tri, quando reinava absoluto no futebol brasileiro: não sai do Rio nem a pau. Nem se digna a ver um clássico de outro Estado, tampouco observa a atuação deste ou daquele jogador. Muito menos vai aos clubes, se informar com técnicos, preparadores físicos, médicos, enfim, sobre detalhes técnicos e até pessoais de jogadores.
A explicação de Zagallo é insuficiente: vê tudo pela TV. Pela TV, vê apenas o desempenho técnico do jogador, nunca sua movimentação tática. Ah, mas com tantos anos de experiência, dá para adivinhar, pode retrucar o velho treinador. Dá, sim, mas nem sempre. Além do mais, como técnico exclusivo, esse é seu trabalho.
Que, convenhamos, não é tão exaustivo assim na entressafra das grandes competições internacionais.
Há fatos, no mínimo, surpreendentes. Por exemplo: as convocações de Marques, Souza e Rogério, todos na reserva de seus clubes, quando da chamada.
Mas aí vem a justificativa: o time desta noite é composto por jogadores que têm idade para disputar a Olimpíada. Vá lá, embora Edílson, chamado para o lugar de Juninho, na dança do vaivém desta seleção de Ricardo Teixeira, já tenha ultrapassado esse limite.
Os demais componentes do meio-campo são meias, habilidosos e com vocação de atacante: Souza, Beto e Edílson, que deverão se juntar aos avantes Marques e Sávio com maior frequência. É o tipo da experiência interessante, mas arriscada. Pois, sem tempo adequado para treinamento, o que é esperança pode virar frustração. Aí, vem o famoso: "Tá vendo? Não dá".

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