São Paulo, terça-feira, 2 de janeiro de 1996
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Psicologia neles!

JUCA KFOURI

Os sextetos de vôlei masculino do Brasil e dos Estados Unidos jogavam na Arena de Long Beach, em Los Angeles, na Olimpíada de 1984.
Os norte-americanos já estavam classificados para as semifinais, e o Brasil, que perdera da Coréia do Sul, precisava vencer.
Jogo duro. No primeiro set, Brasil 15/10. No segundo, 15/12. Começa o terceiro e quando o jogo está empatado 2 a 2 alguma coisa estranha acontece.
De sua casa, no elegante bairro de Beverly Hills, o papa da psicologia esportiva norte-americana, mais de 40 livros publicados, traduzido até para o russo ainda em plena época da Guerra Fria, o doutor Briant Cratty, orientador do grupo de psicólogos da equipe olímpica de Tio Sam, levantou da poltrona e ligou para o ginásio. Mandou chamar o psicólogo que cuidava do vôlei e foi direto ao assunto. "Entregue o jogo. Eles é que precisam da vitória. Para que todo esse desgaste?"
Voltou, olhou para o amigo que via a partida com ele e anunciou. "Vamos pegar vocês na final e demolir."
Em sete minutos os 2 a 2 se transformaram em 15 a 2 para o Brasil, que, na semifinal, derrotou a Itália por 3 a 1 e voltou a enfrentar os Estados Unidos na final.
Foi a decisão mais rápida e o placar mais dilatado na história do vôlei masculino em Olimpíadas até então: 3 a 0, com parciais de 15/6, 15/6 e 15/7, em pouco mais de 40 minutos.
O belo time, que tinha William, Bernard, Renan, Montanaro, Xandó e Amauri, ficou conhecido como a Geração de Prata.
O ouro era dos americanos, como o doutor Cratty anunciara.
Todas as principais jogadas brasileiras estavam marcadas. E o passeio que imaginou poder dar, o Brasil levou.
Quem viu o jogo com o especialista americano e conta essa história é o médico brasileiro Victor Matsudo, o maior especialista do país em medicina esportiva, membro destacado do Conselho Internacional da Ciência do Esporte da Unesco.
Tudo isso me ocorre quando, de novo, Edmundo está no centro de uma polêmica e nenhum clube brasileiro tem um psicólogo em sua comissão técnica.
Milhões são investidos para se ter um atleta e não se gasta R$ 5 mil com um profissional que faria toda a diferença, inclusive para ganhar jogos e campeonatos.
Ninguém cuida da cabeça de nossos atletas. E temos gente para isso.
Voltaremos ao tema.

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