São Paulo, terça-feira, 2 de janeiro de 1996 |
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Estado inercial Durante anos acreditou-se que o principal problema brasileiro era a chamada inflação inercial e que as políticas econômicas falhavam porque se mostravam incapazes de desmontar o aparato da indexação. Foi com razão e sucesso que o Plano Real adotou a desindexação como uma de suas principais bandeiras. Foram desindexados os salários, o câmbio, os juros e as tarifas públicas. A desindexação avança em 1996 com o fim da correção monetária dos balanços. Mas esses avanços colocaram às claras outro tipo de inércia, a que sufoca as tentativas de reforma do Estado, em especial a privatização. Como salientou o deputado Roberto Campos em artigo publicado domingo por esta Folha, o governo não tem o ônus do pioneirismo nessa matéria. Collor também padeceu do mesmo mal. FHC tampouco tem o comprometimento ideológico de Itamar, que se pronunciou contra a privatização. Ainda assim, o atual governo é mais lento e vacilante que os anteriores. Das 17 privatizações prometidas para 1995, o governo FHC concluiu apenas oito. Da esperada venda do Banespa ao adiamento do leilão da Light, passando por derrotas no Congresso e confrontos judiciais, o cenário é desanimador. Entrementes, no resto do mundo a privatização ganha corpo e avança desde os anos 80. A experiência generaliza-se na América Latina. Sendo a maior economia da região e tendo um passado estatizante, o Brasil poderá no futuro transformar-se num pólo importante de operações de privatização. No ritmo atual, porém, esse futuro parece distante. No lugar da inflação inercial, vê-se agora um Estado inercial que, no limite, coloca em risco a própria vitória lograda até agora contra a inflação. Próximo Texto: Um mito a menos Índice |
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