São Paulo, quarta-feira, 3 de janeiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Questão de saúde

JANIO DE FREITAS

Uma vida já longa é insuficiente para entender por que os presidentes, sempre contando todos com razoável quantidade de feitos positivos -até por ser impossível que não ocorram em um país como o Brasil- não se dispensam de recorrer também, ou mesmo preferencialmente, às adulterações, ao inverídico.
Nosso compromisso inicial era gastar em saúde, até o final do governo, US$ 80 por brasileiro. Pois bem, hoje já estamos gastando R$ 83 por brasileiro" - foi uma das afirmações enfáticas do presidente Fernando Henrique Cardoso em seu criativo balanço" do primeiro ano de governo.
O investimento do governo em saúde teria sido, portanto, de quase R$ 12,5 bilhões. Acontece que não foi. Ficou em R$ 8,3 bilhões, aos quais a imaginação presidencial acrescentou 50%. O investimento em saúde, propriamente dito, foi de R$ 55,33 por habitante. Se ao investimento somar-se todo o gasto com pessoal, o montante sobe para R$11 bilhões, que vêm a ser R$ 73,33 por habitante.
O valor apresentado no balanço" decorreu da soma de gastos em 95, com investimentos e pessoal, mais pagamentos atrasados de gastos feitos no ano passado pelo governo Itamar Franco. Combinação incabível e truque desnecessário. Está bem fresca nas memórias a série de desavenças do ministro Adib Jatene, com o próprio presidente e com os ministros Pedro Malan e José Serra, para obter as verbas que, mesmo destinadas no Orçamento ao seu ministério, não lhe eram repassadas no primeiro semestre de 95. Foi preciso que a retenção se visse promovida a manchete para que as verbas chegassem à saúde.
Ainda que seja só com os balanços" dos antecessores, e não com a realidade, há alguma coerência na fala televisiva de Fernando Henrique. O mesmo não acontece, porém, entre ela e sua simultânea entrevista ao Globo". Nesta, é dito de Adib Jatene que apenas conduz o ministério dos hospitais", cujos recursos caem em saco sem fundo", sem controle e sem retorno": Nada mudou".
Já no balanço", nenhum dos temas objetivos mereceu mais espaço para os êxitos do governo, os reais e os nem tanto, do que os atribuídos ao ministério de Adib Jatene. Com destaque, em se tratando do ministério dos hospitais", para o combate às fraudes que resultou na redução de 1,5 milhão de internações hospitalares". Como o presidente, mais seduzido por números menos sustentáveis, não mencionou a economia decorrente de tal redução nas internações fraudulentas, pode-se acrescentar que foi da ordem de belos R$ 250 milhões, destinados a fins de fato úteis.
Mas, pelo visto, está sendo necessário maior investimento em saúde mental.

Texto Anterior: Dúvida sobre o Sivam persiste, diz relator
Próximo Texto: Ceterp quer elevar em 30% valor de venda de 5,7 bilhões de ações
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.