São Paulo, quarta-feira, 3 de janeiro de 1996
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Concertos em SP têm som de 1º Mundo

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Cultura também se compra, e a música não escapa a essa regra. Sociedades privadas de programação, empresas patrocinadoras e um público de maior poder aquisitivo acabarão hora dessas por colocar São Paulo no Primeiro Mundo dos espetáculos eruditos.
Estamos chegando perto. Pelo menos R$ 9 milhões serão injetados em 1996 nas temporadas paulistanas de canto, montagens líricas, solistas instrumentais, música de câmara e sinfônica. Tudo isso para os gastos de origem privada.
Embora o calendário não esteja fechado por todos os programadores, é provável que se chegue a 45 espetáculos (35 deles com artistas estrangeiros), que totalizarão no mínimo 120 récitas. Será uma a cada três dias, ou bem mais quando se sabe que a temporada vai de março a novembro, com uma pausa para as férias de julho.
"Temos duas séries de concertos com 2.400 assinantes. Possivelmente para 1996 será preciso providenciar uma terceira série para os dez espetáculos já programados", diz Gerard Loeb, da Sociedade de Cultura Artística, a mais antiga programadora de concertos.
"Há um interesse cada vez maior do público e das empresas interessadas em patrocinar a boa música", diz Sabine Lovatelli, presidente do Mozarteum, entidade no ramo desde 1981.
"O público, por sua vez, está cada vez mais exigente na cobrança da qualidade", diz Sérgio Melardi, que programa a série Maksoud-Banco Pontual.
A grosso modo, as entidades concorrem num mesmo mercado para atraírem o público, "e essa concorrência acaba beneficiando quem gosta de música, porque aumenta o número e a qualidade das opções", diz Marcos Arbaitman, presidente do clube A Hebraica e dos concertos nela realizados.
É difícil saber que posição essa temporada ocupa em termos de ranking mundial da música. "São Paulo está talvez melhor que Zurique", disse à Folha o pianista brasileiro radicado em Londres Arnaldo Cohen.
O fato é que, em termos mais próximos, excetuadas quatro ou cinco montagens de ópera do Teatro Colón, não há objetivamente mais razão para que se pense com inveja na programação de Buenos Aires. Por lá atuam duas sociedades, contra sete aqui.
Entre elas -e é mais um indício nítido de que a música clássica está em alta- duas surgiram no ano passado e a última neste ano, a Concertos Grande ABC, beneficiada pela relativa ebulição na demanda musical paulistana.
Mesmo a ópera -de produção mais complexa e que envolve uma parafernália maior de artistas- está deixando de ser monopólio da prefeitura e dos corpos estáveis do Teatro Municipal.
Há em primeiro lugar os Patronos do Municipal, uma entidade que reúne mecenas, faz co-produções com o teatro e supre necessidades materiais que vão da compra de um piano Steinway ao aluguel de partituras.
Em segundo lugar, a Sociedade Brasileira de Ópera. A entidade se propõe a formar cantores brasileiros, co-produziu neste ano 22 espetáculos e fará mais em 1996.
Em terceiro e último lugar, São Paulo caminha para a construção de um teatro lírico privado, que dentro de quatro anos ou pouco mais deverá estar anunciando sua primeira temporada lírica.
Será um teatro de 2.400 lugares (750 a mais que o Municipal e 1.250 a mais que o Cultura Artística) no Parque Villa-Lobos, marginal do Pinheiros, com projeto e custo a serem revelados em março, em meio a uma primeira campanha para a arrecadação de fundos e a atração de mecenas que se beneficiarão de incentivo fiscal.

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