São Paulo, quarta-feira, 3 de janeiro de 1996
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Vá até o talento se ele não vier até você

BILL GATES

Criamos software para o mundo e nosso sucesso depende do recrutamento de pessoas talentosas
Fui inundado por perguntas desde o anúncio de que a Microsoft está iniciando uma operação conjunta de notícias com a NBC. Tratarei do assunto em uma próxima coluna.
Pergunta - A Microsoft planeja desenvolver mais software fora dos Estados Unidos, onde a técnica pode ser obtida a preço mais baixo?
(Paul Benninghoff, benning@cse.ogi.edu. Pergunta similar à de Michael Huggett, mikedcc@idirect.com; Anand Deshpande, ZJBU32A@prodigy.com, e outros).

Resposta - A Microsoft desenvolve a maior parte de seu software nos EUA. Isso poderá mudar, mas o motivo não é o de economizar dinheiro.
Criamos software para o mundo e nosso sucesso depende da obtenção de talento. Até agora conseguimos isso recrutando pessoas que desenvolvem software no mundo e trazendo-as para nossa organização, em Redmond, Washington.
Apenas 5% de nosso desenvolvimento de software vem de fora dos EUA, mas é importante que tenhamos um ambiente no qual grandes mentes de diversos países possam trabalhar juntas.
Dependemos de trabalhadores estrangeiros especializados em matemática, ciências e que tenham, além dessas habilidades, conhecimento cultural. Isso ajuda na adaptação de produtos para o mercado mundial.
Reunindo 90% dos que desenvolvem nosso software em um só lugar, obtemos resultados rápidos e de boa qualidade. Isso nos custa US$ 1 bilhão por ano em pesquisa e desenvolvimento, mas funciona.
Uma nova lei sobre imigração será apresentada ao Congresso. Essa lei tornará muito difícil, tanto para a Microsoft quanto para qualquer outra empresa americana, contratar trabalhadores estrangeiros especializados. É bem possível que essa lei seja aprovada.
Se for, os EUA se tornarão um país onde estrangeiros especializados não conseguirão nem mesmo obter vistos temporários de trabalho, e onde empresas não conseguirão oferecer a esses empregados residência permanente, mesmo depois de provar que não há, nos EUA, trabalhadores disponíveis para exercer tal função.
Tais restrições aumentarão as pressões para fazermos a maior parte do desenvolvimento de nosso software fora dos EUA, num país que acolha trabalhadores estrangeiros especializados.
Quando os EUA não permitem a entrada de pessoas talentosas, ou que venham acompanhadas por seus cônjuges e crianças, eles fazem com que a pesquisa e o desenvolvimento em um só lugar deixe de ser atraente.
Até agora, parte de nossa relutância em construir um segundo centro de desenvolvimento foi baseada no desgaste da competição entre centros -o que observamos ao trabalhar com a IBM no desenvolvimento de um sistema operacional nos anos 80. A quantidade de controvérsias desnecessárias entre os centros de desenvolvimento da IBM era inacreditável. Mas agora operamos com uma outra empresa com vários centros -Hewlett-Packard-, e isso abriu nossas mentes.
Quando trabalhamos com a IBM, havia muita competição entre laboratórios de desenvolvimento para saber que missão seria dada a cada um deles. A IBM sempre tentava detectar a carga de trabalho de cada laboratório. Se um laboratório fosse bem-sucedido e sua tarefa aumentava, podia perder parte de seu trabalho para outro laboratório que estava ocioso.
A Hewlett-Packard trabalha de forma diferente. Oferece uma tarefa ao laboratório e não a altera. Se for bem, o laboratório cresce; se for mal, o laboratório diminui.
Essa forma de trabalho reduz as lutas inúteis entre engenheiros de diferentes locais. Se a Microsoft abrir um centro de desenvolvimento de software no exterior, seguiremos o modelo da Hewlett-Packard, não o da IBM.
Pergunta - Gostei de sua aparição no show de David Letterman, quando você promoveu seu livro "A Estrada do Futuro". Você conseguiu fazer com que a máquina de adivinhação de Letterman funcionasse? (Charles Mulay, Canadá, mulayc@cityhall.city.burlington.on.ca)
Resposta - Quando se viaja para promover um livro, acontece todo o tipo de loucura, como aparecer em programas de entrevistas. Não estou acostumado com isso e estava um pouco nervoso em relação ao programa de Letterman. Em geral, quando me encontro com a mídia é para discutir um tópico técnico ou uma estratégia de negócios. Mas no livro "A Estrada do Futuro" evitei, deliberadamente, esse tipo de discussão.
Em vez disso, descrevi um quadro que acredito será fascinante e bom, mas às vezes preocupante: o futuro. Meu público alvo era amplo -o tipo de público que assiste ao "Late Show com David Letterman". E foi assim, por causa disso, que pela primeira vez compareci ao show.
Dave me deu um aparelho e pediu-me que apertasse alguns botões enormes enquanto ele lia as perguntas. A máquina nunca funcionou direito. Ele me pediu para voltar na semana seguinte para ajudar no "conserto" da máquina, mas foi impossível voltar.
Me diverti durante o seu programa, mas devo admitir que estou feliz que a excursão para lançar o livro tenha terminado. A venda do livro foi boa, o dinheiro deverá ir para obras de caridade, e isso também me agrada muito.
Pergunta - Por que o "Windows" da Microsoft tem esse nome? Também gostaria de saber em que linguagem de programação o "Windows" foi escrito. (Starehe Starehe, Kenya, Starehe@elci.apc.org)
Resposta - O "Windows" é chamado assim porque trabalha com múltiplos programas na mesma tela. Cada um deles ocupa uma área retangular, semelhante a uma janela (window). Foi escrito principalmente em "C++", com algumas linguagens de máquina misturadas nele. A maior parte do novo código foi escrita em "C++".

Cartas para Bill Gates, datilografadas em inglês, devem ser enviadas à Folha, caderno Informática -al. Barão de Limeira, 425, 4º andar, CEP 01202-900, São Paulo, SP- ou pelo fax (011) 223-1644. A correspondência pode ser enviada a Bill Gates no endereço eletrônico askbill@microsoft.com. Tradução de Lise Aron

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