São Paulo, quarta-feira, 3 de janeiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sérvios da Bósnia são acusados de sequestrar civis bósnios

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O governo muçulmano da Bósnia acusou os sérvios do país de sequestrarem cidadãos bósnios nos arredores de Sarajevo, a capital. Observadores da ONU no país confirmaram o desaparecimento de sete bósnios nos últimos dias.
Segundo o governo, eles passavam por Ilidza, bairro ocupado pelos sérvios. O número de desaparecidos chega a 16, segundo o governo.
Os rebeldes sérvios negam o sequestro. "Trata-se de uma provocação das autoridades muçulmanas, que não terá o efeito desejado", disse Dragan Dragic, porta-voz sérvio. Para ele, "caso realmente haja ocorrido uma complicação indesejada, a culpa é das autoridades muçulmanas, que manipulam seus cidadãos, enviando-os às zonas sérvias".
O incidente é o primeiro desafio concreto para as tropas da Otan, que têm entre suas missões permitir o livre trânsito de cidadãos entre as várias partes do país. Este é um dos pontos do acordo de paz de Dayton (EUA).
Pelo tratado, Sarajevo fica inteiramente sob controle muçulmano-croata, após o fim da guerra. Os rebeldes sérvios resistem a entregar os bairros que controlam nos arredores da capital.
Foi o governo da Sérvia (país vizinho à Bósnia) que negociou a paz, e não os rebeldes que proclamaram a "República Sérvia da Bósnia". Os rebeldes, por sua vez, convocaram um plebiscito no mês passado entre a população sérvia. A absoluta maioria votou contra a entrega dos bairros.
Entre os desaparecidos, segundo o governo bósnio, há duas crianças. O número de desaparecidos pode ser ainda maior.
O ministro bósnio para Relações com Organismos Internacionais, Hasan Muratovic, pediu ajuda às forças de paz da Otan na Bósnia para solucionar o caso.
Em Mostar (130 km ao sul de Sarajevo), uma pessoa morreu quando a polícia croata atirou em dois carros. Segundo a versão da polícia, os ocupantes dos carros se recusaram a parar quando abordados pelos policiais e abriram fogo.
A cidade é cortada pelo rio Neretva, que na prática separa as regiões croatas e muçulmanas.
Antigos adversários, os dois grupos lutaram juntos contra os sérvios e, pelo acordo de paz, dominarão 51% do território. Mostar está sob administração direta da União Européia.
As tropas norte-americanas continuaram ontem se instalando no norte da Bósnia, uma das últimas regiões a registrar o fim dos conflitos.
Os norte-americanos se instalaram em uma antiga fazenda coletivizada pelo regime comunista da ex-Iugoslávia, em Gornji Zabar, 15 km ao sul da fronteira com a Croácia. A fazenda tem um campo de pouso.
A principal missão dos americanos será vigiar para que cada facção recue cerca de 2 km, abrindo um corredor que garanta aos sérvios acesso aos seus territórios no norte da Bósnia.

Texto Anterior: Vulcão russo lança lava a 7 km de altura; Mubarak forma novo governo egípcio; Gene pode regular o comportamento
Próximo Texto: Guerra de fumaça
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.