São Paulo, quinta-feira, 4 de janeiro de 1996
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Obra de Dufy é exposta em museu de Roma

DO "CORRIERE DELLA SERA"

O Fauvismo foi talvez o movimento de vanguarda mais precário e fraco entre todos do início de 1900. A maior parte de seus cultores deixou o grupo depois do fatídico 1905.
É o que se pode dizer sobre George Braque, que passou a reproduzir o estilo de Picasso, na épica construção do Cubismo; sobre Andre Derain, que experimentou os vários Classicismos e sobre Maurice Vlaminck que decidiu "apagar" o fulgente colorido da estação "selvagem" afogando-a num mar de tinta.
Os únicos que por toda a vida foram fiéis ao fauvismo foram Henri Matisse, que foi o maior de todos, e Raoul Dufy, finalmente homenageado em Roma com a mostra "A decoração e a Moda dos anos 1920-30", que fica instalada na Villa Medici, até o próximo dia 7.
Os dois artistas, num certo sentido, dividiram as partes: enquanto o primeiro, Matisse, desenvolveu sobretudo o lado da cor-superfície, o outro ficou com a parte inegavelmente mais ingrata e fraca, do desenho, de uma grafia híspida e complicada, que parecia estar querendo compensar a ausência de cor, com um exagero extremo de lineamentos.
As linhas na arte de Matisse quase não existem, ou emergem como traços de limites dos esboços de cor, capazes de construir a arquitetura completa da pintura.
Dufy, mais jovem que Matisse oito anos, tenta segui-lo no mesmo caminho, mas as hábeis nuances de cor não fazem seu estilo. Pouco a pouco, mas sem interrupção, os esboços cromáticos escorregam em direção ao fundo, num acompanhamento discreto.
Tornam-se não muito mais do que se poderia chamar "preparação" da tela. E assim se dispõem dóceis a hospedar a dança dos grafismos, os quais têm a tarefa de traçar as figuras: mulheres elegantemente trajadas, naturezas mortas com muitas flores, casas de avenidas de cartões postais.
O traço desliza rapidamente, estenográfico, sem demora. Todo esse modo de proceder pareceu por decênios demissionário, no que diz respeito aos atributos tradicionais da pintura, o que contribuiu para conferir a Dufy um lugar menor no grupo fauve.
Somente hoje, estamos em condições de valorizar um estilo do tipo, ligando-o, por exemplo, a um dos últimos capítulos da experimentação, a arte do grafite.
É como se Dufy tivesse proposto para toda a vida (morreu em 1953 na Costa Azul) um incessante grafite, superando os limites de formato.
A obra de Dufy não conheceu limites entre manifestação da arte no estado puro e os usos "aplicados" na moda e na decoração.
No fundo, ele não fez mais que realizar uma única gigantesca peça de tecido, faustosamente ornamentada. Ou, talvez, se trate de um rolo de papel no qual a pena inquieta do sismógrafo coloca seus traços frenéticos?

Tradução de Anastasia Campanerut.

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