São Paulo, quinta-feira, 4 de janeiro de 1996
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China necessita de estrutura para crescer

LEON ALEXANDER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Repassando a viagem à China na semana passada com a missão comercial brasileira é difícil descrevê-la pois atropelam-se misturadas lembranças marcantes.
O som da buzina que avisa que o presidente Fernando Henrique está para deixar o Palácio do Povo e que de novo avisa que ele já foi, custa a crer ter saído da garganta do sentinela hierático e engessado que guarda a entrada principal.
O contraste formidável entre o velho e o novo marca as ruas.
São edificações com no máximo 17 anos de construção, geradas pela abertura de mercado ao capital estrangeiro. Alguns prédios novos ostentam na fachada canos de esgoto de alto a baixo, o que sugere baixa qualidade da construção.
Este pensamento encontrou confirmação na determinação do ministro da Construção para que sejam demolidas construções de baixa qualidade.
Tantos contrastes delineiam o vale que está sulcando cada vez mais a diferença entre a pobreza que se acentua no campo e o surgimento de uma casta de novos ricos que vem se construindo no bojo das aberturas econômicas.
E como acontece entre nós, a miragem da riqueza nos centros urbanos atrai do interior levas de migrantes desempregados sequiosos de participar dela. O aumento da produtividade na agricultura vem excluindo do seu trato grande número de chineses que passam a demandar as cidades.
No entanto, as grandes cidades parecem barrar-lhes antecipadamente a entrada, pela impossibilidade pelo menos física de recebê-los: o trânsito caótico, onde bicicletas e triciclos com cargas inimagináveis disputam ensandecidas cada palmo de asfalto com ônibus, carros e pedestres.
Onde a poluição faz a de São Paulo parecer refresco de tamarindo e fecha várias zonas da cidade em horários críticos. Onde os poucos apartamentos de 100 m2 custam US$ 8.000 de aluguel mensal.
A imagem do contraste chocante aparece ao vermos a quantidade de sorrisos nos rostos dos pedestres, na simpatia e afabilidade que percebemos neste povo.
Ou no intenso fervor religioso dos que se prostram de joelhos no Templo do Buda de Jade, cuja pedra inteiriça pesa uma tonelada.
E no meio da vertigem da chegada de tanto capital estrangeiro que está sendo despejado na China, a dúvida é se tudo isto não poderá desmoronar pela falta de infra-estrutura básica.
O crescimento econômico supera largamente o crescimento de energia elétrica. Esgoto e água nos grandes centros são precários ou inexistentes. A população de 1,150 bilhão conta na China com menos de 10% de terras aráveis.

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