São Paulo, terça-feira, 9 de janeiro de 1996
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Policiais suspeitos de participar de tortura são afastados no Rio

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

A Corregedoria de Polícia Civil abriu inquérito para apurar a suposta prática de tortura contra 116 presos da 21ª DP (Delegacia de Polícia), em Bonsucesso (zona norte do Rio), em 18 de dezembro.
A Cinap (Coordenadoria de Inteligência e Apoio Policial) da Polícia Civil afastou ontem quatro policiais suspeitos de participar das torturas.
As surras e torturas com choques elétricos teriam ocorrido após uma frustrada tentativa de fuga, segundo relato dos presos ao defensor público Francisco Santana, do 2º Tribunal do Júri.
Santana, 56, disse à Folha que, após a fuga ser controlada, 12 policiais civis e um PM fardado agrediram os presos e aplicaram choques elétricos na maioria deles.
O defensor público acusa ainda os policiais de terem obrigado os presos a tirar a roupa e a praticar sexo oral entre eles. A tentativa de fuga foi controlada pelos policiais da delegacia de Bonsucesso, com a ajuda de detetives da Cinap.
O coordenador da Cinap, Silas Diniz, disse que os quatro detetives que estiveram na DP foram afastados por desobedecer a ordem de não entrar na carceragem. Segundo ele, a função da Cinap é cercar as DPs em casos de fuga.
"Fazemos um cerco externo. Quem entra na delegacia é o pessoal que conhece lá dentro. Os homens que estiveram lá entraram na delegacia, o que foi um erro. Foram suspensos porque têm que pagar pelo erro", disse o delegado.
Diniz afirmou que os policiais da Cinap negam que tenha havido espancamentos e torturas.
A Cinap abriu sindicância interna para apurar o caso. O resultado da sindicância se juntará ao inquérito da Corregedoria.
O chefe de Polícia Civil, delegado Hélio Luz, disse que o inquérito deverá resultar em afastamentos e processos criminais.
"Primeiro temos que apurar as autorias, a fim de punir os responsáveis", disse Luz.
Três presos já prestaram depoimentos ao defensor do 2º Tribunal do Júri. José Ricardo Batalha, Francisco Araújo Magalhães e Clodoaldo Marinho dos Santos fizeram exames de corpo de delito no IML (Instituto Médico-Legal).
Magalhães está com a mão e a perna direitas quebradas, conforme o laudo médico. Batalha tem o braço direito quebrado. Marinho apresenta ferimentos em fase de cicatrização. Os três disseram que foram torturados.

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