São Paulo, terça-feira, 9 de janeiro de 1996
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Brasileiros conquistam espaço na Holanda

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Vários brasileiros participam hoje da chamada "new dance" holandesa. Entre outros, está Rose Akras, ex-integrante do Grupo Marzipan, que marcou a cena paulistana entre 1985 e 1989.
Há cinco anos morando na Holanda, Rose estréia seu novo espetáculo, "Huid" ("Pele"), em maio, no Teatro Felix Meritis de Amsterdã. No segundo semestre deste ano, a peça deverá ser apresentada em São Paulo.
Como Rose, há uma legião de brasileiros se destacando na Europa atualmente.
"Apesar da forte competição que enfrentamos, na Europa é possível contar com uma infra-estrutura mais profissional", diz Rose, que está inaugurando um novo ciclo em sua carreira com "Huid".
Até então, as peças que ela desenvolveu na Holanda tinham caráter narrativo. Em "Santas", de 1993, inspirou-se nas imagens de Santa Ágata e Santa Lúcia, mártires que foram mutiladas pelos romanos no século 3.
"A iconografia destas personagens me impressionou. Santa Ágata, por exemplo, é retratada segurando seus seios mutilados numa bandeja".
A última coreografia de Rose baseou-se na lenda indígena da Yara. Intitulada "Uiara", participou em 1995 de festivais importantes, como o Julidans de Amsterdã.
"Em 'Huid' pretendo abstrair o teatral, me fixando mais no corpo e no movimento", afirma ela. Além da própria coreógrafa, "Huid" será interpretado por mais dois brasileiros radicados na Holanda: Brasília Botelho e Jorge Filio, ex-bailarinos do Balé da Cidade de São Paulo.
"Filio é muito requisitado pelos coreógrafos da Holanda", comenta Rose, citando ainda Marcelo Evelin, Reginaldo Dutra, Sergio Ulhoa e Claudia Trajano entre os brasileiros que estão dando certo na cena multicultural de Amsterdã.
"Na 'new dance' holandesa todas as técnicas contemporâneas são válidas para se chegar a um estilo pessoal", ela salienta.
Por tradição, a Holanda sempre impulsionou a dança experimental. Neste ambiente sem preconceitos, para onde afluem artistas de todas as partes do mundo, predominam técnicas pós-modernas, como o "contact improvisation", criado pelo norte-americano Steve Paxton.
A integração entre mente e corpo também é valorizada pelos artistas da "new dance". Rose, por exemplo, frequenta no momento um curso em voga na Holanda, o "body mind centre", uma espécie de terapia corporal criada por Bonnie Baindridge.
Na Bélgica, onde a "new dance" também está em alta, o cearense Claudio Bernardo vem recebendo elogios calorosos da crítica. Ele estréia em abril sua nova criação inspirada em Fernando Pessoa.
Nascido em Fortaleza, ele dançou no Ballet Stagium e na Companhia de Victor Navarro no início dos anos 80.
Em 1986, ingressou no Mudra, escola de Maurice Béjart em Bruxelas. Mais tarde, trabalhou com o grupo multimídia Plan K.
A partir de 90, foi para o Atelier Sainte Anne, na capital belga, para criar seu próprio repertório, que inclui obras inspiradas em Serra Pelada, Pasolini e em clássicos como "A Voz Humana", de Jean Cocteau, cuja encenação foi considerada exemplar pela crítica belga.

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