São Paulo, quarta-feira, 10 de janeiro de 1996
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Panfleto faz ataques nada cordiais a FHC

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

A primeira-dama Ruth Cardoso escapou de um bom constrangimento ao faltar ao lançamento do livro "O Próximo Passo - uma Alternativa Prática ao Neoliberalismo". Talvez tenha sido informada do conteúdo anti-governista e do tom nada cordial que marcam este panfleto de 150 páginas, escrito em parceria pelo político tucano Ciro Gomes e o intelectual do PDT Roberto Mangabeira Unger.
Trata-se, provavelmente, da crítica mais ácida e de maior alcance ao que pode representar o governo Fernando Henrique Cardoso.
Não deixa de ser uma ironia que a iniciativa tenha partido de um tucano -dos mais bicudos, é verdade- e de um intelectual radicado nos EUA, que leciona em Harvard e milita à distância num partido decadente, incapaz de se livrar da figura de seu líder Leonel Brizola.
Seria mais razoável esperar um documento do gênero saindo das fileiras petistas. Mas não. Como a esquerda anda atônita e não sabe o que fazer, Ciro Gomes e Mangabeira Unger aproveitaram a brecha para atacar em bloco o governo e a suposta oposição, que inexiste.
Um trecho dá uma idéia do espírito que anima as páginas assinadas por essa dupla inusitada: "O PSDB, paralisado pela sua condição de partido governista que não governa, ameaça ser lançado no caminho tradicional dos nossos partidos reformistas, já trilhado, desastrosamente, pelo PMDB: o roteiro da rendição ao pequeno realismo das elites, a fórmula dos acertos com grandes empresários e banqueiros, conluios ornamentados por protestos de preocupação social. Enquanto isso, os partidos de esquerda, a começar pelo PT, jogaram sua sorte na defesa dos resíduos da antiga economia política dos anos 50 e na solidariedade com os interesses corporativos dos trabalhadores, públicos e privados, mais privilegiados do país".
Fazendo do neoliberalismo seu principal adversário, a dupla de autores não cansa de identificá-lo sem rodeios com o governo FHC.
Mas, como não estão preocupados apenas com a crítica e sim com a intervenção política, tratam de apresentar propostas detalhadas sobre privatização, reforma tributária, saneamento do Estado e política de desenvolvimento. Sua viabilidade será tema de políticos e tecnocratas de plantão.
O melhor deste panfleto, no entanto, não é seu aspecto propositivo e sim o vento do contra que o atravessa. Mesmo que seja difícil discernir o que há de jogada política, mero devaneio e lucidez crítica contidos em suas páginas.

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