São Paulo, quarta-feira, 10 de janeiro de 1996
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Governo conta com TCU para salvar Sivam

LUCAS FIGUEIREDO; MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo investe numa mudança de posição do TCU (Tribunal de Contas da União) para salvar o projeto Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia). O tribunal suspendeu o recesso e, desde ontem, prepara um nova manifestação sobre o projeto.
A palavra do tribunal será decisiva para o destino do contrato com a empresa norte-americana Raytheon, escolhida sem licitação pública para tocar o projeto.
Em dezembro, relatório parcial do TCU apontando irregularidades na montagem do programa provocou um acordo informal entre senadores para anular o contrato. O objetivo do governo é conseguir que o tribunal mude de opinião e dê um aval ao contrato.
Em sua nova manifestação, o TCU analisará o teor de dossiê preparado pela Aeronáutica para tentar esclarecer as irregularidades apontadas no relatório anterior.
O presidente Fernando Henrique Cardoso insiste em que as irregularidades encontradas no relacionamento do Ministério da Aeronáutica com a Esca foram saneadas com o afastamento desta empresa do programa.
A nova estratégia do governo fez recuar os senadores em sua posições contra o projeto. Determinados no fim do ano a exigir uma nova licitação, eles agora argumentam que é preciso ouvir novamente o TCU.
"Se a nossa atitude no final do ano passado (acordo para anular o contrato) foi por causa da auditoria do TCU, seria um equívoco desconsiderar o tribunal agora", observou o líder do PMDB, Jáder Barbalho (PA).
"O TCU pode dizer que as supostas irregularidades não subsistem a ponto de comprometer a Raytheon", sugeriu o líder do governo no Senado, Élcio Álvares (PFL-ES).
O ministro do TCU Adhemar Ghisi, relator da auditoria, já convocou sua assessoria e disse que vai apresentar um novo parecer o mais rápido possível.
Ghisi apontou, num parecer preliminar, em novembro, 18 irregularidades consideradas graves no relacionamento da Aeronáutica com a Esca. Até ontem, ele não havia recebido o dossiê da Aeronáutica para dar sua palavra final.
Se depender da cúpula política do governo e do Senado, o contrato com a Raytheon não será objeto de investigação por parte do TCU.
Ontem, essa possibilidade foi descartada durante uma reunião de líderes no gabinete do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
O pedido de investigação havia sido apresentado pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP).
Suplicy insiste em que o TCU investigue a forma como a Raytheon foi escolhida, da mesma maneira que fez com a Esca.
O dossiê da Aeronáutica não conseguiu impor um recuo definitivo na tendência do Senado de vetar o contrato com a Raytheon. A maioria dos senadores nem sequer tinha lido o calhamaço de 139 páginas. Nesse grupo, estavam ontem à noite Sarney e o relator da supercomissão que investiga o Sivam, Ramez Tebet (PMDB-MS).

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