São Paulo, quarta-feira, 10 de janeiro de 1996
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Chegou a hora de 'pintar' esse tricolor

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Essa Copa São Paulo deve ser vista sob dois ângulos: o da disputa em si e aquele que revela novos e promissores talentos para o futebol principal. No que toca à competição, a primeira rodada até que foi animadora, com uma média de mais de dois gols por partida, ainda que disputada sob nervosismo de estréia.
Os paulistas, a maior representação em campo, levaram muito mais chumbo do que louros. Coube ao Corinthians, tão somente, na abertura do torneio, escapar dessa onda de insucessos, com seus 3 a 0 sobre o Fluminense. E, no domingo, ao Lousano Paulista, que venceu o Palmeiras por 1 a 0. Mas, aqui, foi chumbo trocado. Assim como o Nacional, que derrotou o São Paulo, também por 1 a 0, com um gol de mão do centroavante Rafael.
A propósito, o que me chamou a atenção no tricolor, além de sua absoluta falta de categoria, foi um fenômeno que venho observando há algum tempo nas equipes de baixo do São Paulo: tem branco demais nesse samba. Espero que seja apenas coincidência, e não fruto de uma política que, ao privilegiar os bons modos da meninada não crie odiosa, ainda que inconsciente, discriminação. Odiosa e burra, posto que, nos últimos tempos, para cada Jamelli revelado no Morumbi, há um contingente de ilustres negros e mulatos, como Cafu, Gilmar, Ivan, Ronaldão, André, Mona, Catê, Denílson etc.
Como dizia o velho Charuto ao saudoso técnico De Domenico, que nos deixou, centenário, há pouco tempo: "É preciso pintar esse time". Mesmo porque nesse Nacional de Charuto e De Domenico pintou o único jogador que escapou do lugar-comum dessa rodada: o meia-esquerda Ricardinho, crioulo, canhoto, habilidoso, inventivo, autor de, pelo menos, duas jogadas magníficas na partida.
Sim, porque de resto está duro de destacar os futuros craques. Pelo menos nos três jogos que pude ver. Ah, sim, o Lousano também apresentou um meia-esquerda, igualmente canhoto, só que branquelo, para não dizerem que estou fazendo discriminação às avessas: Claudinho, ex-Ponte. Mas esse já é conhecido, jogou até na seleção de juniores em 95. Tem assim um estilo parecido com o do Sávio, mas um longo caminho a percorrer. Já mais parrudo e veterano, aos 20 anos, com breve experiência internacional, é o centroavante Alberto, que me causou igualmente boa impressão em Jundiaí.
Isso, claro, na rápida espiada num jogo que ainda mal começou. O melhor está por vir. Espero.
*
A marcação cerrada, homem-a-homem, do companheiro Marcelo Damato sobre o escândalo das fitas do ex-juiz Cattani começa a derrubar as retrancas armadas pelos envolvidos. Até o presidente Farah veio a público jurando punir os responsáveis com rebaixamento e outros bichos. Com mais alguns cutucões, nem mesmo a Justiça poderá ficar inerme diante do caso, embora saibamos que esses caminhos são longos, tortuosos e, às vezes, muito mal iluminados.

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