São Paulo, quarta-feira, 10 de janeiro de 1996
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Respeito aos mestres

THALES DE MENEZES

A passagem de Bjorn Borg e Guilllermo Vilas pelo Brasil cumpriu o que se esperava. Mataram saudade de fãs trintões e mostraram para a molecada um pouco de finesse com a raquete.
É verdade que os dois perderam o fôlego dos tempos em que reinavam nas quadras, mas toda a sutileza no toque de bola permanece irreparável.
O tênis é um dos esportes que melhor permite ao atleta veterano desenvolver seu jogo. Se as pernas já não conseguem correr pela quadra toda, a força dos golpes também não é a mesma, dando mais tempo para as deslocações.
No sábado, o que se viu foi um Borg mais enxuto que o rival. Mais rápido, chegava antes às bolas e atacava com precisão.
Borg ficou com os lances mais bonitos, com algumas bolas colocadas em ângulos muito difíceis. Já Vilas foi um rebatedor, mas o preparo físico precário minou a tática "paredão" que o consagrou.
No domingo, faltou festa na quadra montada na praia. O jogo de duplas, com Borg e Vilas enfrentando Luiz Mattar e Jaime Oncins, chegou perto do fiasco.
Em primeiro lugar, o tempo estava feio. Praia sem sol não dá. Depois, o fato declarado de nem Borg nem Vilas gostarem da modalidade. No caso de Vilas, ele parece até incomodado na quadra.
No entanto, o principal motivo foi a atitude de Mattar e Oncins. Alguém precisava ter colocado na cabeça dos brasileiros que aquilo era uma partida de exibição.
O placar de 6/1 e 6/3 para a dupla brasileira, em menos de 50 minutos de jogo, frustrou a torcida. Oncins e Mattar partiram para a definição rápida dos pontos, sem dar chance ao público de assistir a algumas trocas de bola.
Talvez alguns adeptos estranhem, mas a verdade é que Oncins e Mattar tinham que ter dado um refresco para os veteranos. O público iria agradecer, com certeza.
Em 78, Borg esteve em São Paulo para um jogo-exibição contra o italiano Adriano Panatta. Na hora da partida, foi fácil constatar que Panatta estava completamente fora de forma. Para complicar, sentia uma contusão nas costas.
Borg entendeu tudo e fez o espetáculo rolar. Ganhou por 3 sets a 0, é verdade, mas deixou de matar pontos garantidos para prolongar as trocas de bola.
Faltou esse espírito aos brasileiros, mas isso não comprometeu a turnê de Borg e Vilas. São dois dos grandes artistas da história do tênis. Do tipo de jogador que já não aparece mais nas quadras.

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