São Paulo, quarta-feira, 10 de janeiro de 1996 |
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Villela se desdobra entre erudito e popular
DANIELA ROCHA
Em 20 de janeiro, "Mary Stuart", de Schiller, entra em cartaz no teatro Mars, trazendo no elenco Xuxa Lopes e Renata Sorrah. Já programadas para março estão as estréias de "O Mambembe", de Arthur Azevedo, no Teatro Popular do Sesi e "A Torre de Babel", com Marieta Severo, que faz temporada no Rio. Além disso, o Grupo Galpão reapresentará em São Paulo "A Rua da Amargura". No meio do ano, Villela vai a Salvador (BA), montar um clássico com uma companhia que deve formar no Teatro Castro Alves. Terminada a montagem, ele segue ao Rio, para fazer "A Ventania", de Alcides Nogueira. "Este ano está desenhado até outubro. Isso me dá muita tranquilidade e me prepara para o ano de 97", diz. Leia abaixo trechos da entrevista com Gabriel Villela. * Folha - Você planejou um 96 tão agitado? Villela - Não. Estou me sentindo como uma vaca parideira neste momento. "Torre de Babel", "Mary Stuart" e "O Mambembe" são três atalhos na minha carreira que mostram uma evolução no meu trabalho em direções diferentes. Quero aproveitar este momento. Folha - Qual o seu ritmo de trabalho? Villela - O ritmo de ensaios está puxado. Há um mês e meio ensaio "Mary Stuart" de manhã e à noite e "O Mambembe" durante o tarde. É uma sensação parecida com a de uma mãe que vai dar luz a gêmeos. Não tem um "filho" predileto. São duas personalidades opostas. São procedimentos diferentes de trabalho. A dificuldade está em sair de um tão envolvido com uma atmosfera de cena e viar o canal para o outro. Não durmo à noite, porque é a hora que eu mais gosto de produzir. Então faço cortes de texto, organizo meu trabalho. Folha - "O Mambembe" é um musical. Você já pensava em montá-lo? Villela - Em 86, fui convidado para fazer uma montagem do texto na EAD, mas é uma peça que exigia muita produção e a apresentação acabou não acontecendo. Aquilo ficou latente em mim. É um espetáculo que precisa de estrutura porque é monumental. É farto de personagens, de uma tipologia que atravessa os tempos e que está presente no nosso dia-a-dia. Arthur Azevedo radiografa a problemática do artista que transcende a época. Folha - Os cenários e figurinos do espetáculo são seus? Villela - Sim. Os cenários estão sendo feitos por um artista que pinta carroceria de caminhão. Fomos para os postos de gasolina das rodovias atrás desse artista. Mostra o Brasil kitsch e ao mesmo tempo sincero no traço, na arte. Para os figurinos, projetei cada personagem, e então fui a Londres, onde comprei todos os tecidos em uma loja que trabalha com reprodução de figurinos de todas as épocas. Para mim seria repetitivo reutilizar a linguagem estética de "A Rua da Amargura" ou de "Romeu e Julieta", montado por um grupo essencialmente mambembe. Queria alguma coisa mais brincalhona, mais musical, puxando para a estética popular interiorana de caminhoneiro. Já para escolher figurinos de "O Mambembe", fui a Londres. E para fazer os de "Mary Stuart" fui até o interior de Minas para escolher fios de linho, seda e lã de carneiro que foram batidos em teares de 2.000 anos. Folha - Você tem uma ligação com o teatro mambembe muito forte. Por quê? Villela - A única forma de expressão teatral que vi até os 18 anos foi o circo-teatro, que nada mais é do que uma companhia nômade. Os circos se instalavam em um terreno ao lado do sítio onde eu morava, em Carmo do Rio Claro. Observava muito o camarim deles, o dia-a-dia, a sobrevivência. Pegava arroz e feijão dos armazéns do meu avô e levava para os artistas. Isso me fascinou muito. Quando deixei a minha cidade, percebi que seria um itinerante a vida inteira, que não estabeleceria um tempo de parada. Sento praça aqui, faço o que tenho que fazer e vou para outro lugar. Foi assim que terminei "Vem buscar-me que ainda sou teu" e fui até Minas trabalhar com o Galpão. Não quero ficar parado e ser um mero observador daquilo que faço. Próximo Texto: Diretor adota viés protestante Índice |
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