São Paulo, quarta-feira, 10 de janeiro de 1996
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Surfe on line custa tempo e dinheiro

DO "USA TODAY"

Pessoal de escritório animado está cada vez mais difícil de encontrar. Eles parecem ocupados, sentados atrás de seus terminais de computador, sobrancelhas cerradas. Mas, mais do que deveriam, estão surfando na Internet.
Para o escritor Clifford Stoll, essa postura equivale a carregar uma prancheta encardida. "Ninguém interrompe você, mesmo que não esteja fazendo nada."
A promessa da era da informação é a eficiência. Mas a Internet está servindo de disfarce para empregados, principalmente homens, que gostam de um joguinho, detestam falar ou são egocêntricos.
As empresas não querem ficar de fora da rede mundial, que proporciona acesso rápido à informação. Mas também não desejam que a produtividade diminua. Para seu desencanto, legiões de trabalhadores surfam, na hora do serviço, procurando por novos empregos.
Empregados concordam que há um problema. "Saí clicando nas ligações dos textos e, quando me dei conta, estava a milhas de distância do começo", diz Ron Barfield, gerente de vendas em Arlington, Texas.
"Os grupos de discussão parecem um velho rádio amador: você senta e fica tagarelando", diz o vendedor John Hallman, de Charlotte, NC. Os dois afirmam que é preciso bastante disciplina para não se dispersar.
Mas nem todos são disciplinados. Em Minneapolis, um policial de trânsito foi apanhado jogando "StripPoker" contra uma adversária gerada por computador, que se despia ou vestia dependendo de quem ganhasse a partida.
Algumas empresas estão tomando medidas preventivas. Funcionários da Pepsi-Cola nos EUA são recebidos por um ofuscante aviso de que o uso do computador é restrito ao trabalho.
O tempo perdido on line é contado em horas, não em minutos. Empregados com acesso à Internet gastam em média dez horas por semana on line, segundo pesquisa da Yahoo!/Jupiter.
A Webster Network Strategies, que também vende software para bloquear a entrada em determinados endereços da World Wide Web (braço multimídia da Internet), mediu o acesso dos empregados em uma grande empresa. E concluiu que a média dos trabalhadores gasta uma hora e meia por dia com a rede mundial.
Fazendo as contas, se mil empregados gastam uma hora e meia cada, a empresa perde 1.500 horas por dia ou US$ 30 mil, considerando US$ 20 por hora.
Um dos mais populares endereços na Web é nada mais que uma foto de um banheiro. Sexo é a palavra mais procurada.
A maioria dos usuários da Internet no trabalho também tem acesso em casa. Mas dois terços surfam no emprego, segundo pesquisa da Nielsen Media Research.
Usuários da Internet pagam em média US$ 32 por mês para ter acesso à rede pelo micro de casa. Eles tentam economizar, entrando na rede na hora do trabalho.
A "Playboy" na Web recebe de 90 mil a 200 mil "visitas" diariamente -grande parte no horário comercial. O endereço do "USA Today" também é bastante popular nesse período. É acessado por cerca de 110 mil pessoas por dia, mas cai 50% aos domingos.
Segundo a Nielsen, dois terços dos usuários da rede são homens, 81% com menos de 45 anos.
Compras pela Internet aumentam a produtividade, diz Bill Rollinson, vice-presidente da Internet Shopping Network, na Web. "Você economiza o dinheiro da empresa quando, em vez de ir à loja, faz compras em seu escritório."
Outro argumento a favor do acesso irrestrito: mais da metade dos usuários está na rede há menos de um ano e precisa experimentar.
Muitos empregadores esperam que seus funcionários se aborreçam da novidade. Enquanto isso não acontece, seus empregados vão aprender que "a Web está repleta do trivial, desimportante e ilusório", segundo Stoll, autor do livro "Silicon Snake Oil" ("Óleo de Cobra de Silício", sobre a superestrada da informação). "É como tentar se alimentar com um saco de Cheetos."

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