São Paulo, quarta-feira, 10 de janeiro de 1996
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Vai demorar

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - Todos sabemos que a parte mais importante de um prédio não são as paredes. Tampouco é a cobertura.
A essência de uma obra é a fundação, um maciço de alvenaria que se enterra no solo. Se ela é malfeita, todo o resto será inconfiável.
A construção de um país sólido também depende de um bom alicerce. Assim como no prédio, a base de uma nação não está à vista de todos. Encontra-se enterrada na cabeça de seus habitantes. Refiro-me à educação.
Precisa ser consistente, sólida. Do contrário, a grande nação não passará de uma utopia. Ou, voltando à nossa metáfora, não será senão um prédio de paredes rachadas e sob risco de desmoronamento.
No Brasil, desde os jesuítas da era colonial, a educação jamais foi uma prioridade real. Nossa história, aliás, é marcada por uma espécie de culto à ignorância.
O acesso às letras costuma iluminar mentes. E uma sociedade vazada de luz perde a aparência bovina. Pensa, questiona, reivindica.
Daí a preferência pela manutenção do modelo das trevas. Ora por mero descaso, ora para obter mão-de-obra barata, ora para manter invisíveis os desvios do regime, ora para pôr antolhos no eleitorado.
Professor, Fernando Henrique disse outro dia que 1996 será o ano da educação. Bom, muito bom, ótimo. Nunca é tarde para começar. Mas é bom que se diga: vai demorar até que tenhamos níveis aceitáveis de educação.
Mencione-se, por eloquente, o exemplo do Japão. Os japoneses lançaram as bases de seu desenvolvimento há 136 anos (1860), com a revolução educacional Meiji. Eliminaram-se, já naquela ocasião, os maiores focos de analfabetismo.
Nosso atraso impõe uma dificuldade adicional. Para recuperar o terreno, precisamos reforçar o alicerce sem pôr a casa abaixo. É como calçar sapatos sem desgrudar do chão a planta dos pés.
Se Fernando Henrique cumprir a palavra, talvez comecemos a notar alguma diferença dentro de 20, talvez 30 anos. E o Brasil de nossos tataranetos pode ser uma edificação segura. Se o presidente ficar na retórica...
PS.: Como disse domingo, deixo a coluna hoje. Muito obrigado e até logo.

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