São Paulo, terça-feira, 16 de janeiro de 1996
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Reforma sofre derrotas na Assembléia e na Justiça

SILVIA QUEVEDO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FLORIANÓPOLIS

A reforma administrativa do governador de Santa Catarina, Paulo Afonso Vieira (PMDB), 37, sofreu ontem as primeiras derrotas. A Assembléia Legislativa votou contra duas medidas provisórias da reforma e um funcionário aposentado obteve uma liminar na Justiça contra o corte dos salários.
As derrotas aconteceram uma semana depois do anúncio do pacote de medidas da reforma.
A reforma começou por um decreto do governador, determinando o corte de parte do salário de servidores ativos e inativos, no valor do que ultrapassar os 65% da arrecadação líquida do Estado, teto previsto pela Constituição.
As duas medidas provisórias rejeitadas pela Assembléia regulamentavam mudanças no quadro de pessoal do magistério e na contratação de professores admitidos em caráter provisório.
Elas foram reprovadas ontem por 20 votos contra 16, entre os 36 deputados (de um total de 40) que compareceram à sessão.
O governo sempre contou com maioria na Assembléia, com 22 votos de uma base governista formada pelo PMDB, PFL, PSDB e PDT. Ontem, cinco votos contrários dos deputados do PDT e PSDB desequilibraram o quadro.
Tucanos e pedetistas esperavam que o governador deixasse a reforma mais amena, instituindo alternativas menos severas que o corte dos salários. O líder do PDT, Afonso Spaniol, disse que o partido chegou a condicionar o apoio às medidas à retirada do corte.
Nas reuniões ocorridas pela manhã no Palácio Santa Catarina, em horários diferentes, com as duas bancadas, o governador manteve a posição do corte. No final da tarde, ele reuniu-se com a bancada do PFL, que votou a favor das medidas, assim como o PMDB.
Liminar
A liminar foi concedida pelo vice-presidente do Tribunal de Justiça do Estado, desembargador João Martins, ao funcionário aposentado Norberto Brandt, que ingressou com um mandado de segurança.
Em sua decisão, o desembargador entendeu como "relevantes" os fundamentos do pedido contra o corte salarial.
Ele afirma que o decreto 624/96, que instituiu o corte, "menospreza" o inciso 15 do artigo 37 da Constituição Federal, que garante os direitos adquiridos.
Segundo o secretário da Casa Civil, Milton Martini, os deputados votaram contra a forma com que o governo encaminhou suas propostas, por meio de medidas provisórias.
Hoje, o governo encaminhará as mesmas medidas, sob a forma de projeto de lei. Martini acrescentou que a liminar será cumprida, mas que a suspensão temporária dos salários continuará.
O governador Paulo Afonso disse que "o Judiciário tem de se preocupar com o direito coletivo e não com o direito individual".
O ministro do Planejamento, José Serra, disse ontem que os demais governadores devem promover uma reforma administrativa, a exemplo de Santa Catarina.
Serra esteve em Florianópolis (SC) para a assinatura de contratos no valor de R$ 24,3 milhões, destinados a 27 municípios.
Ele não quis recomendar, no entanto, as mesmas medidas adotadas pelo Estado.
"Não vou prescrever receita para outros Estados, cada governador conhece sua realidade e deve trabalhar nela."

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