São Paulo, terça-feira, 16 de janeiro de 1996
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Comissão ignora TCU e vai dar parecer sobre o Sivam

MARTA SALOMON; LUCAS FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Senado vai decidir o destino do Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia) sem esperar pela palavra final do TCU (Tribunal de Contas da União), que apontou, num relatório preliminar, uma série de irregularidades na montagem do projeto. O tribunal prepara agora o que deve ser o seu relatório definitivo sobre o assunto.
A decisão foi anunciada ontem, depois de uma reunião do líder do governo, Elcio Alvares (PFL-ES), com o presidente e o relator da supercomissão que investiga o Sivam, Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) e Ramez Tebet (PMDB-MS), respectivamente.
O relatório preliminar do TCU, que tinha provocado um forte impacto nos senadores, está sendo submetido agora a uma releitura que parece ser bastante positiva para os interesses do governo, que quer ver aprovado o projeto: "O Senado é soberano e não está submetido ao TCU", afirmou Tebet.
Ele já prepara seu relatório final antes mesmo de o tribunal se pronunciar. O relator torce para que o TCU não venha a contrariar depois a decisão tomada pelo Senado.
"A informação do TCU pode ser valiosa, mas não representa a pedra que vai fundamentar a decisão", insistiu Elcio Alvares, que quer ver o caso Sivam resolvido no máximo em um mês, durante o período de convocação extraordinária do Congresso.
Embora o presidente Fernando Henrique Cardoso tenha concordado, na semana passada, com a sugestão do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), de esperar um relatório conclusivo do TCU, o governo investe numa resposta rápida do Senado.
Ontem, o relator da auditoria do TCU, ministro Adhemar Ghisi, afirmou que o prazo fixado pelo Senado (até o dia 7 de fevereiro) "é muito curto".
Ghisi se recusa a dar uma opinião "apressada" sobre o contrato e ironiza o comportamento de alguns senadores: "Eles já sabem de tudo."
Foi um relatório preliminar de Ghisi, apresentado em novembro, que sustentou a oposição do Senado ao projeto de US$ 1,4 bilhão.
Somente ontem, o Ministério da Aeronáutica encaminhou oficialmente explicações ao tribunal sobre as 18 irregularidades apontadas pelo relator.
O líder Elcio Alvares reafirmou ontem que a tendência do Senado é aprovar o empréstimo externo para o contrato com a empresa norte-americana Raytheon. "Tenho conversado com os senadores e encontrado muita compreensão", disse.
O líder atribuiu a "aspectos emocionais e passionais" a oposição que o contrato enfrentou no fim do ano passado, após o primeiro relatório do TCU.
Ele disse que o Senado só poderia anular o contrato se ficasse provada alguma irregularidade direta contra a Raytheon, como o pagamento de propinas.
SBPC
Tanto o líder quanto o relator não pretendem levar em conta a denúncia de superfaturamento feita pelo deputado petista Arlindo Chinaglia (SP) e reafirmada pela SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência).
A fase de investigações da supercomissão termina hoje, com o depoimento do brigadeiro Ivan Frota, que coordenou os primeiros passos do projeto e hoje é um de seus críticos. Os demais depoimentos foram cancelados.

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