São Paulo, terça-feira, 16 de janeiro de 1996
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Apito 'antipolícia' leva casal à prisão

CLÁUDIA MATTOS; AZIZ FILHO
DA SUCURSAL DO RIO

O chefe de Polícia Civil do Rio, delegado Hélio Luz, criticou duramente ontem o grupo de pessoas que usa apitos para avisar os usuários de maconha que consomem a droga no Posto 9, na praia de Ipanema (zona sul do Rio), da aproximação da polícia e, assim impedir o flagrante.
No último sábado, Wellington Paiva Gouveia, 25, e Bianca de Oliveira Freitas, 18, foram presos ao distribuírem apitos e panfletos contra a repressão policial. Os dois foram autuados de acordo com a lei da contravenções penais, por perturbação da ordem pública.
"Este assunto tem de ser tratado como contravenção, sim. Essas mesmas pessoas que distribuem apitinhos pela praia fazem parte da elite que procura a delegacia para reclamar do roubo de um carro ou do pivete que está assaltando na esquina", disse Luz.
O delegado afirma que a polícia não pode ter dois pesos e duas medidas só porque os usuários de maconha no Posto 9 são da classe média ou alta.
"A elite quer que a polícia puna as contravenções e os crimes praticados pelos outros, mas não quer que a polícia faça nada quando é ela que os pratica."
Para Luz, o apoio aos consumidores de maconha em Ipanema é um reflexo do que as classes média e alta esperam da polícia.
"Eles querem uma polícia que não mexa com eles, só com quem ganha de R$ 500 para baixo."
O governador do Rio, Marcello Alencar (PSDB), disse que não deu instruções pessoais aos comandantes das polícias civil e militar, mas que apóia as ações de repressão. "Meia dúzia de pessoas estavam fazendo panfletagem e incitando à prática criminosa. Enquanto não revogarem as leis, essa (usar drogas) é uma prática criminosa", disse Alencar.
O tenente-coronel Paulo Afonso Cunha, comandante do 23º Batalhão da PM (Polícia Militar), responsável pelo policiamento em Ipanema, diz que vai zelar pelo cumprimento da lei.
"Não tem como a polícia ignorar uma lei. Quando uma lei é aprovada, ela expressa a vontade da maioria. Se a maioria acha que não pode fumar maconha no território nacional, não podemos permitir um maconhódromo em Ipanema."
Cunha disse que seu batalhão continuará a patrulhar diariamente a praia de Ipanema.

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