São Paulo, terça-feira, 16 de janeiro de 1996
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Ainda a psicologia

JUCA KFOURI

Tenho por mestre Telê Santana muito respeito. Sinto, também, grande carinho por ele. Defendo até seu lado ranzinza, agravado ultimamente pelas inúmeras críticas que faz sobre corrupção no futebol sem ver resultado. Não há, mesmo, bom humor que aguente.
Telê, no entanto, está enganado quando diz, como disse em sua coluna no domingo passado, que "o psicólogo deve ser o técnico", que "jogador não gosta de se abrir com desconhecidos".
O argumento não resiste nem em geral nem em particular. Melhor que ninguém, Telê sabe que há muito tempo os jogadores do São Paulo não se abrem com ele, tal é o temor que desperta.
Aliás, já foi assim na Copa do Mundo de 1986, no México, quando, para se ter uma idéia, Falcão, o Rei de Roma, Oscar, e até Gilberto Tim, então seu velho amigo, pediam a terceiros que intercedessem junto a Telê porque estava impossível conversar com ele.
De mais a mais, ninguém, em regra, se abre com desconhecidos -pelo menos até que se tornem conhecidos.
Se quando alguém procura um analista já há uma dificuldade natural nos primeiros contatos, imagine quando é o inverso.
Mas isso vale para todos, inclusive para o jogador apresentado a seu novo técnico, por mais abertos que ambos possam ser. Psicólogos, aliás, quando bons, dominam a técnica que aprenderam na escola exatamente para quebrar mais rapidamente esse constrangimento inicial.
O problema não está aí. O problema está na dificuldade que até mesmo profissionais da competência de Telê às vezes têm com a novidade, aliado ao temor natural de perder a liderança para quem venha a conhecer eventuais segredos que ele não saiba.
É natural, repito, mas infundado.
O psicólogo numa equipe esportiva será mais um membro da comissão técnica. Ou Telê desconhece que até o massagista sabe coisas que ele ignora?
O ex-craque e técnico campeão mundial pela Alemanha na Copa de 1990, na Itália, Franz Beckembauer, por exemplo, é francamente favorável ao trabalho do psicólogo e dele se valeu naquela vitoriosa campanha.
Com o apoio de especialistas na área, tratou de promover um ambiente saudável e democrático (redundância?), permitindo a participação e a colaboração de todo o grupo.
Sem com isso abrir mão de sua liderança, tendo sempre a palavra final nas decisões técnicas.
Reciclar é preciso.

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