São Paulo, quarta-feira, 17 de janeiro de 1996
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'Dívida de Sangue' ironiza mitos do Oeste

EDSON FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Dívida de Sangue" tem tudo o que um fã de faroeste espera. Lá estão bandidos, mocinha e tiroteios. Mas, pelo viés do humor, o filme vira o oeste do avesso.
Sem cair no recurso fácil da paródia, faz rir graças a um roteiro originalíssimo, que coloca personagens improváveis em situações mais improváveis ainda.
Dois exemplos básicos e fundamentais: a mocinha -Jane Fonda, belíssima- é professora e assalta trens nas horas vagas. Kid Shelleen é o pistoleiro bonzinho, que abusa do uísque, vivido por Lee Marvin, Oscar de melhor ator por sua atuação nesse filme.
Se na ação aparente a história não tem nada de plausível, os roteiristas reconstituíram com zelo o cenário onde se dá a trama.
A história começa em 1894 no Wyoming, o menos populoso Estado norte-americano. O fato de o herói principal vestir saias tem lógica. As mulheres do Wyoming foram as primeiras a votar nos EUA, já desde 1869.
Após ter concluído sua graduação, Jane volta para casa onde encontra o pai defendendo suas terras da expansão das mineradoras.
Com o xerife devidamente subornado, as mineradoras contratam um pistoleiro com nariz de prata (também vivido por Marvin). Ele executa o pai da heroína.
A dívida a que se refere a horrorosa tradução do filme em português -o título original é "Cat Ballou", nome do personagem de Jane Fonda- é a busca de vingança por parte da mocinha.
Tudo andava meio sem graça até a chegada do pistoleiro Shelleen. Tem início então um sucessão de gags inesquecíveis.
Para ficar em só um exemplo: no velório do pai da moça, Shelleen, embriagado, confunde as velas ao lado do caixão e começa a cantar "Parabéns pra Você".
Com sua atuação nesse filme, Marvin conseguiu dois prodígios: mostrar que aperfeiçoou a arte de encarnar bêbados -o que já havia feito em "O Selvagem" (1954), com Marlon Brando- e ofuscar inapelavelmente Jane Fonda.
A narrativa de "Dívida de Sangue" é ponteada por dois menestréis: um deles é ninguém menos que Nat King Cole.
Mesmo cantando composições jocosas e pouco acima do medíocre, Cole mostra grandeza em "They'll Never Make Her Cry".
Quanto ao diretor Elliot Silverstein -que, diga-se, desapareceu com a mesma velocidade com que havia surgido-, ele se entregou ao talento dos atores sob, ou melhor, à parte de sua direção.
Os melhores momentos resultam da atuação destes últimos. Como única exceção sobra a cena de um baile do tipo quadrilha.
Enquanto vai alternando os parceiros, Jane fica informada sobre a situação da terra que havia deixado para ir estudar. Se não conseguiu montar um todo coeso, o diretor pelo menos soube posicionar as câmeras nessa cena.
A maior virtude de "Dívida de Sangue" é ironizar os mitos e, com isso, mostrar que nem Lee Marvin e nem o Velho Oeste são tão durões assim.

Vídeo: "Dívida de Sangue" (Cat Ballou, EUA, 1965)
Diretor: Elliot Silverstein
Elenco: Jane Fonda, Lee Marvin e Nat King Cole
Distribuidora: LK-Tel (tel. 011/825-5766)

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