São Paulo, quarta-feira, 17 de janeiro de 1996
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"Z" permanece atual e se renova a cada escândalo de corrupção

MARILENE FELINTO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Quando o filme "Z" (1969) estreou no Brasil, nos anos 80, depois de 15 anos proibido pela censura do regime militar, foi recebido com catarse por platéias lotadas de gente vitimada pela ditadura.
Quem era dez anos mais novo custava a entender a comoção que, no entanto, compreenderá perfeitamente hoje, num país que levou ao impeachment um presidente.
Basta isso para revelar como "Z", do diretor grego Constantin Costa-Gavras, 62, não apenas é um dos mais importantes filmes políticos da década de 70 como permanece atual, tão vivo quanto a personagem evocada em seu título -a letra Z, em grego antigo, significa "ele está vivo".
Com roteiro assinado por Costa-Gavras e pelo escritor espanhol Jorge Semprun, o filme, na verdade, se renova a cada novo escândalo de corrupção, abuso de poder e desrespeito aos direitos humanos, marca de tantos governos de hoje.
A história de "Z" é adaptada do romance homônimo do também grego Vassili Vassilikos.
Registra-se um momento de confronto entre extrema direita governista e oposição na conturbada vida política da Grécia dos anos 60.
Em 1965, o deputado Lambrakis, líder da oposição, médico e professor universitário, foi assassinado, com a cumplicidade da polícia, por membros de uma organização de extrema direita.
Este mesmo "caso Lambrakis" é a matéria de "Z", que tem Yves Montand no papel do líder desarmamentista e antiamericano, cujo assassinato daria início a um processo revolucionário que terminou com a renúncia do governo (de Andreas Papandreou), a eleição de um primeiro-ministro oposicionista e um posterior golpe de Estado.
No início, tudo é confusão por ocasião do "incidente" ou "assassinato" do deputado. A câmera acompanha o vaivém desnorteado do grupo de oposicionistas que, na ingenuidade do cidadão que se funda no valor da lei, não concebe o absurdo de violência e mentira capaz de ser fabricado pelos mecanismos da corrupção.
O filme é ágil e estruturado sob suspense constante, na medida que vai se construindo a partir da paulatina reconstituição (com flash-backs das cenas mais significativas) do assassinato.
"Z" é marca registrada de Costa-Gavras, diretor aficcionado pelo tema da restrição das liberdades individuais pelos instrumentos do poder travestidos de lei (é assim também em "Missing, o Desaparecido" e "Estado de Sítio"), ele próprio um desses cineastas algo expatriados, um intinerante genial.

Vídeo: Z
Diretor: Costa-Gavras
Elenco: Yves Montand, Irene Papas, Jean-Louis Trintignant Distribuição: Alphaview (tel. 011/725-6135)

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