São Paulo, quarta-feira, 17 de janeiro de 1996 |
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"Z" permanece atual e se renova a cada escândalo de corrupção
MARILENE FELINTO
Quem era dez anos mais novo custava a entender a comoção que, no entanto, compreenderá perfeitamente hoje, num país que levou ao impeachment um presidente. Basta isso para revelar como "Z", do diretor grego Constantin Costa-Gavras, 62, não apenas é um dos mais importantes filmes políticos da década de 70 como permanece atual, tão vivo quanto a personagem evocada em seu título -a letra Z, em grego antigo, significa "ele está vivo". Com roteiro assinado por Costa-Gavras e pelo escritor espanhol Jorge Semprun, o filme, na verdade, se renova a cada novo escândalo de corrupção, abuso de poder e desrespeito aos direitos humanos, marca de tantos governos de hoje. A história de "Z" é adaptada do romance homônimo do também grego Vassili Vassilikos. Registra-se um momento de confronto entre extrema direita governista e oposição na conturbada vida política da Grécia dos anos 60. Em 1965, o deputado Lambrakis, líder da oposição, médico e professor universitário, foi assassinado, com a cumplicidade da polícia, por membros de uma organização de extrema direita. Este mesmo "caso Lambrakis" é a matéria de "Z", que tem Yves Montand no papel do líder desarmamentista e antiamericano, cujo assassinato daria início a um processo revolucionário que terminou com a renúncia do governo (de Andreas Papandreou), a eleição de um primeiro-ministro oposicionista e um posterior golpe de Estado. No início, tudo é confusão por ocasião do "incidente" ou "assassinato" do deputado. A câmera acompanha o vaivém desnorteado do grupo de oposicionistas que, na ingenuidade do cidadão que se funda no valor da lei, não concebe o absurdo de violência e mentira capaz de ser fabricado pelos mecanismos da corrupção. O filme é ágil e estruturado sob suspense constante, na medida que vai se construindo a partir da paulatina reconstituição (com flash-backs das cenas mais significativas) do assassinato. "Z" é marca registrada de Costa-Gavras, diretor aficcionado pelo tema da restrição das liberdades individuais pelos instrumentos do poder travestidos de lei (é assim também em "Missing, o Desaparecido" e "Estado de Sítio"), ele próprio um desses cineastas algo expatriados, um intinerante genial. Vídeo: Z Diretor: Costa-Gavras Elenco: Yves Montand, Irene Papas, Jean-Louis Trintignant Distribuição: Alphaview (tel. 011/725-6135) Texto Anterior: 'Dívida de Sangue' ironiza mitos do Oeste Próximo Texto: Pirotecnia e proezas técnicas fazem o sucesso de "Ladrão de Sonhos" Índice |
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