São Paulo, quinta-feira, 18 de janeiro de 1996
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'Vamos para a próxima e vamos ganhar de novo'

Leia a seguir a continuação da exposição preliminar do presidente Fernando
Henrique Cardoso e a entrevista coletiva concedida na sequência:

"A mesma coisa se diga com relação a outros açudes. Eu já pedi que se tome a sério e que se reestude a questão da transposição das águas do rio São Francisco. Nós não podemos ficar sempre sem enfrentar as questões. Se uma coisa é realmente adequada, vamos fazer. Se não é adequado, tire-se isso do horizonte.
No Estado de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, o governo federal tratou de fazer o que era o mais importante, ou seja, a sua situação financeira, por causa das questões dos seus bancos ou das suas dívidas mobiliárias, assim como o Rio Grande do Sul.
E com isso, esses Estados, que são Estados fortes, se repõem.
No Rio de Janeiro, fizemos mais do que isso. O pólo Gás-Químico está feito. Os investimentos serão feitos já.
A mesma coisa no que diz respeito a Sepetiba, a mesma coisa no que diz respeito ao teleporto. Tudo o que eu prometi foi feito. Daqui por diante, é só trabalho efetivo, mas os recursos estão disponíveis e a vontade política existe.
No Rio Grande do Sul nós dobramos o pólo petroquímico. Está feito também. É só continuar, só fazer.
Resolvemos a questão de Candiota, que era uma questão dramática de geração de energia para o Sul.
Recomeçamos as hidrovias aqui, basicamente no rio Madeira e no rio Araguaia. Enfim, o custo Brasil, a redução do custo de transporte, a ação nos portos, onde estamos terminando o recenseamento dos portos e há muitos portos funcionando em base de porto livre, ao porto privado. Vários portos. Mais de 15. Tudo isso foi refeito.
Um dia é preciso que se faça a soma dessas atividades para que não se pense que o governo está apenas tratando aqui no Congresso de fazer reformas. Faltava muito refazer os fundos de acumulação, a crença na possibilidade de atuar, a parceria com o setor privado e, realmente, seguir adiante.
Refizemos tudo o que foi possível refazer na agricultura. Anos e anos de superjuros. Eu, durante a campanha, prometi que acabaria com a TR. Acabei com a TR. Os juros foram reduzidos àquilo que é suportável e até abaixo do suportável. E demos dois anos de carência para a recapitalização da agricultura. Em suma, não é com lei que se muda o Brasil. É com ação, com energia.
E é também -só para terminar e ficar à disposição dos senhores- dizendo que, além disso, não vou descuidar daquilo que sempre me foi muito caro, que é uma idéia que pode parecer difícil, mas que nós estamos fazendo, que é o Plano Nacional dos Direitos Humanos. A comissão encarregada pelo Ministério da Justiça e o dr. Paulo Sérgio Pinheiro já prepararam uma primeira proposta para me apresentar, para que nós possamos efetivamente avançar mais nessa área dos direitos humanos, do combate à violência, do controle dos abusos do Estado e da sociedade.
Também tenho muita satisfação de poder dizer ao país que, na área da cultura, que é outra área que não pode ser posta à margem, houve uma retomada. Essa retomada começou antes. O presidente Itamar Franco deu um grande empenho ao cinema nacional e os resultados estão aí. Eu próprio, quando posso, vejo filmes. Já vi alguns bons filmes feitos agora pelo cinema nacional. E, quando se for ver os recursos destinados à área da cultura, nós dobramos os recursos destinados à área cultural e vamos continuar nessa direção.
Recuperação do patrimônio histórico. As empresas estatais que, muitas vezes, na sua propaganda institucional jogavam recursos lá fora, até na Europa, para fazer propagandas desnecessárias ou concursos que não beneficiavam o país, estão reconstruindo igrejas, estão ajudando a fazer teatro, estão trabalhando também em termos de um renascimento da cultura nacional.
No ano de 1996 isso tudo vai ser feito com mais ímpeto ainda porque com uma experiência maior, de uma nova visão da sociedade e do governo, e sobretudo, como eu tenho afirmado, vamos nos dedicar muito à questão educacional, que já mudamos o rumo. Vamos enfrentar agora o problema da educação profissionalizante, vamos enfrentar a questão de uma autonomia financeira das universidades que não seja um cheque permanente, sem fundo, para o Tesouro, mas que seja uma responsabilidade com essa autonomia. E isso será feito dessa maneira.
Aprovamos leis significativas nessa mudança e a questão da ênfase no ensino primário.
Enfim, eu tenho muita confiança em que, com o apoio que nunca me foi negado pelo Congresso Nacional, pelo contrário, e com a permanente vontade de explicar o que se está fazendo, de ouvir, de dialogar, nós vamos seguir adiante. E eu tenho muita confiança no êxito, não é do meu governo, é do Brasil. Estou à disposição dos senhores.
TV Manchete - Boa tarde, presidente.
Presidente - Boa tarde.
TV Manchete - Bem, se pode ver que o senhor continua otimista, apostando no crescimento econômico e no desempenho do setor privado neste ano. Já os empresários, a maioria dos empresários, parece que essa maioria continua preocupada com a possibilidade de mais dificuldades, desemprego e recessão nesses próximos meses. São inegáveis até, embora o governo conteste níveis de desempregos, são inegáveis os números do desemprego na indústria de São Paulo, por exemplo. Os empresários também estão criticando a prioridade nesse socorro que o governo está dando aos bancos, um setor que sempre lucrou no país. Bem, a pergunta que eu gostaria de fazer ao senhor -eu acho até que é uma pergunta que muitos empresários fariam- é se, depois dos banqueiros, o governo tem uma espécie de Proer, uma espécie de programa para socorrer empresários que estão pendurados nos bancos, pagando altas taxas de juros, que são os empresários que podem ajudar efetivamente o governo a atingir essas metas?
Presidente - Pois não. Em primeiro lugar, não é certo o que você disse, a respeito dos empresários. As pesquisas de que eu disponho, mandadas por eles, mostram que eles todos têm confiança no país, estão investindo, vão investir mais, estão vendendo mais. Eu dei alguns dados aqui. Raros são os setores industriais que não se expandiram, em taxas que surpreenderam a eles próprios.
Eu não nego, como não neguei antes, que haja problemas localizados e que haja desemprego nessas áreas localizadas. Eu não apresentei números diferentes. O único número disponível no Brasil sobre taxa de desemprego comparável é o do IBGE, o outro é do Dieese. Foram os dois que eu usei. O resto, é coisa específica. A indústria de São Paulo faz uma pesquisa, na Grande São Paulo. E, ali, na Grande São Paulo, é verdade que esteja acontecendo isso. Eu não nego. Tem que ser feito.
Eu acho que os empresários não querem um Proer, porque o Proer é para pegar bancos que estão muito mal. O setor financeiro vai muito mal, obrigado. O que aconteceu foi uma redução imensa da participação do setor financeiro no produto nacional, porque pela primeira vez, se fez um programa que efetivamente beneficiou o salário e não o capital financeiro. E ele teve um desajuste.
Nós não estamos salvando banqueiros. Nós estamos restabelecendo a condição de financiamento do setor todo. E isso é fundamental para o crescimento econômico.
A mesma coisa está-se fazendo com setores que necessitam dos bancos. O BNDES está fazendo isso. O BNDES está até mesmo no capital de giro, em certas áreas está tratando disso. E em áreas específicas, por causa do problema de exportação, em calçados, eventualmente, em outros setores, imóveis, no passado, o governo atua. Mas atua topicamente, naquele setor onde há o problema. O ruim é a generalização, e dizer: "Ah, está tudo ruim..." Porque não é verdadeiro, não se sustenta. Os dados não mostram isso. A expansão da indústria não mostra isso. Os últimos dados, publicados neste ano, mostram que, mesmo no ano passado, quando se dizia que estava a indústria não crescendo, cresceu com relação a 94.
Então, a gente tem que ser muito objetivo nessas coisas. Não negar a realidade. Há problemas. Mas, também, não pode pensar que, generalizado esses problemas, se resolve as questões. Não se resolve.
A taxa de juros já está caindo, como eu disse que -vocês têm o dado aí. É verdade que os bancos podem cair mais depressa, porque não estão acompanhando a queda da taxa de juros na mesma velocidade com que o governo está diminuindo as taxas de juros do overnight. Isso é certo. É verdade que é necessário criar mecanismos de financiamentos de longo prazo. Isso é verdade. É verdade que nós criamos alguns deles, como a TJLP, que caiu também. E é verdade que o BNDES está agindo com mais energia. O BNDES está emprestando R$ 1 bilhão por mês, 1 bilhão. Isso é mais do que o BID. Emprestando a quem? Aos bancos? Ao governo? Não. À indústria.
De modo que, sem negar que existam problemas, eu peço a compreensão do setor industrial brasileiro, para que ele perceba que, no seu conjunto, na medida em que a economia cresce, que o povo consome mais, ele também cresce, como está crescendo. E é preciso ver, também, pelos dados que dei aqui, que certos setores serão mais dinâmicos do que outros, porque é outra fase. Nós estamos agora isentando... Nesse ano, já tenho informações de que o próprio setor de bens de capital, que sofreu no ano passado, está se recuperando. E nós temos tomado medidas também para amparar um ou outro setor, mas tópicas. É isso.
TV Manchete - Não há novas medidas em estudo, presidente?
Presidente - Há medidas permanentes em estudo. Mas acho que, justamente, o que eu quero mudar no Brasil é essa idéia de que há uma gritaria, o governo vai lá e atende. Depois, há outra gritaria, o governo vai lá e atende. Uma medida aqui, uma medida ali... Nós temos é uma política, não é uma medida. Esta política implica num conjunto de medidas que são tomadas sistematicamente, e estão sendo tomadas.
TV Globo - Boa tarde, presidente. O tratamento dado ao Banespa é diferenciado do Banerj, que vai ser privatizado. Um dos bens que entraram na negociação foi o aeroporto de Congonhas, que, no entanto, está sub judice. O governador Mário Covas diz que o aeroporto pertence ao Estado. E o Tribunal de Contas da União contesta e diz que pertence à União. Isso não inviabiliza essa negociação?
Presidente - Que vontade de inviabilizar, hein? Não. Veja o seguinte: em primeiro lugar, o que está dito no protocolo assinado? É que uma parte da dívida do governo do Estado para com o Banespa, a União vai financiar num prazo longo, numa taxa definida de juros, o que imporá ao Tesouro de São Paulo uma restrição forte -pagamento de cerca de R$ 100 milhões, por mês. É o custo dessa renegociação para São Paulo. Não é dinheiro dado.
Em segundo lugar, a outra parte a União compra bens de São Paulo, recebe, como doação em pagamento, bens. Entre os bens, está, não só a Fepasa, que é algo que é valioso para os dois lados, mas para a União também, porque permite uma privatização melhor da malha ferroviária, como alguns imóveis, cujo valor será verificado. Não foi verificado. Se o bem não for de São Paulo, São Paulo porá outro bem no lugar. Se for de São Paulo, vai se verificar qual é o bem. Não há nenhum problema nessa matéria.
E, com relação ao Rio, eu acho que foi uma boa solução. Acho que foi uma boa solução. Agora, por que não em São Paulo? Porque não havia condições de privatização, porque o Banespa é credor do Tesouro de São Paulo de US$ 14 bilhões. Como é que privatiza? Quem compra uma dívida de US$ 14 bilhões do Estado de São Paulo? Quem tem, depois, o poder para cobrar do Estado de São Paulo US$ 14 bilhões, a não ser a União? Então, não é uma questão teórica, de querer ou não querer privatizar. É prática.
Eu, quando fui nomeado ministro da Fazenda, fiz um discurso de posse -talvez alguns tenham, talvez, assistido- e disse, até de improviso: não é mais uma questão ideológica -privatiza ou não privatiza. É uma questão prática. Podendo e sendo mais conveniente, privatiza. Eu continuo achando que, podendo privatizar, privatiza. Sobretudo os bancos, para evitar que eles repitam o que já aconteceu com esses bancos. Por isso eu saúdo muito a questão do Banerj. Mas eu não posso forçar uma privatização onde não há compradores possíveis. E eu tenho que resolver uma questão que paralisa o reajuste financeiro e paralisa o Estado de São Paulo. É isso.
Folha - Boa tarde, presidente. No ano passado, quando baixou o fim da correção automática dos salários, o governo anunciou que faria uma política especial, uma política nova, para a correção do salário mínimo. Eu gostaria de saber se essa política vai entrar em vigor agora em maio, ou se o governo pretende adiar a correção real, o reajuste real para o salário mínimo.
E, para completar, eu queria saber também como é que vai ficar o reajuste para as aposentadorias e para os salários do funcionalismo público, se o governo pretende lançar mão da política salarial para conter o déficit público.
Presidente - Veja, o governo não está lançando mão de política salarial para conter o déficit público. O salário mínimo foi reajustado, o maior reajuste da história, foi feito no ano passado. Os dados estão aí também, não sei se estão nessa tabela, é só ver. O maior reajuste da história, estável. Então, a nova política foi feita já. Nunca houve um salário mínimo tão alto, por discutível que seja o seu nível, e eu discuto, quanto mais alto melhor. Nem nunca houve -o que é mais importante- um aumento da capacidade de compra com esse salário, do tipo que houve no ano passado. Então é a maior distribuição que eu saiba, que eu tenha dados, já havido no Brasil. Então, essa política já está aí.
Quanto ao salário do funcionalismo, eu dei os dados sobre os gastos com pessoal, que cresceu consideravelmente -mais ou menos 30% eu creio, por aí, ou mais. Quanto ao aumento real de salário, na média, em 95, do funcionalismo, foi de 17%. Então a política está aí, foi uma política de recomposição de salários -os gráficos estão disponíveis também- recomposição de salários.
De modo que já existe uma nova política. Política é política, não é regra automática, é política, você tem que ajustá-las aos fatores emergentes. Eu não sei o que vai haver daqui até maio, eu não tenho idéia.
Folha - Se vai haver reajuste, real ou não, de salário?
Presidente - Não, real sim, real nunca deixou de haver.
Folha - Acima da inflação.
Presidente - Acima não é reajuste. E essa idéia é uma idéia antiga, já. É uma idéia de quem tem a cabeça voltada para a inflação -não é a sua, nós todos- voltada para a inflação: "Reajuste acima da inflação". Vamos esquecendo isso. Vamos pagar o melhor possível, o que seja possível pagar e o melhor possível. Isso é o que deve ser a nova regra. Nós não podemos pensar o futuro com a cabeça no passado.
Agora, com a relação... isso é maio, daqui a maio são cinco meses, eu não sei o que vai acontecer. Eu quero que aconteça o que está acontecendo hoje: o povo que recebe salário mínimo está comendo mais. Não adianta eu dar um aumento que depois não tem capacidade de compra. O meu compromisso, o meu empenho, é fazer com que a capacidade de compra aumente, e não receber apoio para ter aumento que depois não vai dar resultado efetivo. Por isso que eu não digo nada a respeito disso, porque isso me poderia botar numa armadilha. Eu digo, uma coisa que depois não tem efeito nenhum: "Ah, tem de aumentar, tem de aumentar". Aumenta, vem a pressão, você aumenta e quem paga é o povo, porque não teve aumento real nenhum.
O mesmo vale para os funcionários. Nós vamos fazer o que for possível pra ajustar a nossa situação, o equilíbrio das contas públicas, não é às custas do funcionário. Não, eu mostrei aqui que é o contrário, o desequilíbrio é que foi às custas, é o oposto.
Rádio CBN - Boa tarde, presidente. Bom, o senhor já disse, inúmeras vezes, que o governo dobrou os gastos para com a saúde, mas o que a população brasileira observa é que o atendimento nos hospitais continua ainda tão ruim quanto antes. Esse resultado reflete, reforça as críticas de que o ministro Jatene só pensa em dinheiro e não administra. Onde é que está o problema? É mesmo com o ministro?
Presidente - Não, o ministro Jatene tem a consciência aguda da situação da saúde no brasil. Ele sabe que, embora tendo dobrado os gastos -primeiro uma parte desses gastos ele teve de repor dívidas com ele; segundo, que em termos comparativos, para dar um só dado, os dados são os seguintes: nós gastamos, em 94, cerca de 7 bilhões de reais com a saúde; em 95, cerca de 15, o Orçamento era 14, nós executamos mais do que o Orçamento. É inédito na história, o que mostra a minha prioridade na saúde. Indiscutível, inédito na história, gastamos mais do que estava programado no Orçamento, realizamos o gasto. E, portanto, você disse, isso deve dar um efeito muito positivo.
Nós passamos a pagar os hospitais em dia, coisa que não se fazia. Os hospitais levam, três, quatro meses sem receber, e havia a inflação, que comia os haveres, as Santas Casas, os hospitais. Nunca mais houve reclamação de que está atrasado o pagamento, por causa desse aumento de gastos. Se dizia que não havia esparadrapo nos hospitais públicos, não é verdade, o que está acontecendo hoje.
Agora, a França, que tem, não sei, menos da metade da população do Brasil, gasta 100 bilhões, nós gastamos 15. Então, o nosso grande êxito, quer dizer, dobramos, mas em termos do que o Tesouro pode é muito, do que o país precisa é pouco. E como o ministro Jatene sabe disso, e reconhece que o governo botou o máximo que pôde, que a Fazenda deu o máximo que pôde, o que ele faz? Ele diz: "Bom, tem que arranjar mais recursos". A sociedade quer que haja um bom atendimento de saúde? Tem de dar recurso. Você diz: "Ah, mas há fraude". Ele mostrou como ele combateu as fraudes, e continua combatendo. É que há duas, ou três, ou quatro fatores ao mesmo tempo.
Mais ainda: do gasto corrente do governo, que o governo dispõe para gastar, depois que transfere para os municípios, que paga pessoal, que paga a Previdência, que paga juros, deve sobrar o quê? Um bilhão e cem por mês, um bilhão e duzentos. Disso, quanto gasta a saúde? 650. Ou seja, cerca de 60% do disponível vai para a saúde. O ministro sabe disso. Como o ministro sabe disso, ele também sabe que não adianta botar mais pressão interna no governo, porque o governo não tem de onde tirar, ele vai buscar lá fora.
Agora, ele fez os programas daquilo que é fundamental. Nós iniciamos -eu dei ênfase aqui- o programa de agente comunitário de saúde, o programa de combate à mortalidade infantil; os efeitos dessa alimentação que melhorou, de comer iogurte, de comer frango, proteína, nós vamos ter mais adiante, em termos das crianças, em termos das mães, isso vai ter efeito, é um conjunto de medidas que espero que isso tudo nos permita requerer menos recurso específico para hospital, e mais para ação preventiva.
O ministro Jatene tem consciência disso, está lutando como poucos, para obter os recursos adicionais. Agora, é muito fácil você dizer: "Ah, mas já tem muito dinheiro, dobrou, então não dou". Não dou, e depois eu vou lá e vejo: "Ah, mas não tem hospital". Não dá, não é? A gente tem de ser sério na vida. Para ser sério, analisa a questão, examina, e tenta resolver a questão. É o que ele está fazendo, é tentar resolver a questão, não tenho dúvida quanto a isso.
Rádio Bandeirantes - Boa tarde, presidente. Uma das grandes conquistas do governo o ano passado foi a aprovação, no Congresso Nacional, da quebra de cinco monopólios. E essas aprovações aconteceram no primeiro semestre do ano passado. Mas as leis regulamentadoras só começam a chegar ao Congresso no início deste ano ou então nos próximos meses. Como que o governo vai fazer para agilizar o envio dessas leis, já que o bojo da matéria já foi votado e o que precisa agora é regulamentação? E segundo, como agilizar, e quais instrumentos o governo tem para agilizar o processo de privatização e também de concessão de serviço público?
Presidente - As leis foram as seguintes: gás canalizado, cabotagem, já está no Congresso a lei. Gás canalizado basicamente era um monopólio estadual e hoje é aberto. A meu ver o que precisa de lei é nada. É atuar. Empresa nacional, não precisa de lei. Telecomunicações, a lei está no Congresso. A discussão da primeira... está no Congresso. Petróleo, está não está ainda. Por quê? É até uma boa pergunta a sua porque reforça o que eu disse antes.
E nas concessões também. Petróleo, o que aconteceu com petróleo? O Brasil não tinha mais uma política de governo sobre o petróleo, e a Petrobrás se equivalia ao governo. Ela era uma empresa e ela fazia a política. Nós tínhamos apenas um Departamento de Combustíveis, e os preços da Petrobrás sempre foram muito difíceis, discutidos etc. etc. e esse departamento fixava preços, mas não dava uma política propriamente de energia. Agora não. Agora tem que ter. Refazer o Conselho Nacional do Petróleo. Isso não é uma matéria que se possa escrever rapidamente e mandar, porque tem que ser bem feita. Está pronto. Está pronto e nós vamos mandar agora.
Poderia ter sido feita um pouco antes? Talvez. Mas o fato é que o governo fez. As outras não têm, não precisam, não tem mais nada. A de concessão do serviço público, a lei é minha. Está feita a lei. É um pouco o mito que se cria. O que tem que fazer, eu disse aqui também, é para poder avançar mais o processo, sobretudo no setor de energia hidrelétrica, é refazer o DNAE, que é outra coisa. Isso depende da reforma administrativa que está no Congresso. Se eu não faço a reforma administrativa, eu não tenho a flexibilidade para refazer o DNAE. A reforma está no Congresso. É isso.
SBT - Boa tarde. Presidente, alguns setores empresariais definem a proposta de reforma da Previdência a partir do acordo feito entre líderes sindicais, representantes do governo e também o relator da proposta, como pífia. Eu gostaria de saber a opinião do senhor, a definição do senhor para esta proposta de reforma da Previdência e também a opinião do senhor a respeito da reação dos líderes, principalmente dos líderes oposicionistas, que não aceitaram esse tipo de entendimento, e se o senhor pretende convocá-los, inclusive para dar explicações, enfim, para tentar um acordo.
Presidente - Provavelmente quem definiu como pífia nunca leu a proposta, nem a do governo nem o relatório do deputado Euler, nem o acordo. É muito fácil. Foi pífia. Pergunta primeiro se leu, se está por dentro do assunto, se sabe o que está acontecendo. Se tivesse lido, se soubesse o que está acontecendo, ele veria que foi um acordo muito positivo, é minha opinião. Muito positivo não porque eventualmente não se pudesse fazer mais. Mas eu repito: não adianta fazer mais sem a sustentação da sociedade.
E reforma da Previdência mexe com todo mundo. É a mais difícil de todas, por isso. Eu acho que foi muito importante que tivesse havido esse entendimento, e que nesse entendimento, eu repito o que disse há pouco, tivesse sido mantido um critério de racionalidade. Qual é o critério der racionalidade? Os sindicatos pediram que não se mantivesse a data mínima de idade como critério para ser aposentado. E que em vez disso houvesse uma combinação entre tempo de contribuição e mínimo de idade, que está posto lá. Não é a idade de 60 anos, mas tem um mínimo de idade que está posto lá. Esse tempo de contribuição significa 35 anos para o homem, de contribuição. Por quê? Porque hoje, se você for ver, em média, quanto tempo a pessoa contribui, e quanto ela recebe depois de aposentado, vai-se ver que alguém está pagando por esse que está aposentado, e que não foi ele. Ele não contribuiu proporcionalmente ao que vai receber.
Assim é que não dá para andar. A pessoa contribui, digamos, seis anos, sete anos, dez anos, 12 anos, e como a esperança de vida aumenta, e quero repetir aqui um dado que é o seguinte: uma coisa é a esperança de vida, qual é a expectativa, quantos anos você espera viver quando você nasceu. Então digamos que no brasil sejam 66 anos -eu estou chutando, porque eu não sei de cor. Outra coisa é quando você tem 50 anos. Quem chegou aos 50 não vai morrer com 66, em média. Vai morrer com 76, digamos. Então quem se aposenta estará vivo, tem uma esperança de vida maior. Ele normalmente, por sorte para ele, para mim, por todos nós, vai viver mais tempo. Então você precisa ter fundos para pagar esse mais tempo para contribuir para ele continuar vivendo bem. Bem não sei, mas vivendo, recebendo uma pensão. Quando se coloca como requisito para aposentadoria uma pessoa ter contribuído durante 35 anos -e todos estão contribuindo- você aumenta a massa de recursos de que a Previdência dispõe para fazer face a seus gastos.
Logo, como é que eu vou chamar de pífio um acordo que faz isso? E que diz mais: é preciso que haja, além disso, um mínimo de idade. E diz mais: que no setor público não pode o sujeito ser nomeado ministro do tribunal tal ou juiz de não sei o que lá e se aposentar com cinco anos. Aumenta o período que tem de ficar lá para se aposentar. Como é que eu vou chamar isso de pífio. Não. É um bom entendimento.
A segunda parte da sua questão: eu já manifestei aqui o meu entusiasmo pelo fato de ter sido possível chegar a um diálogo com as centrais sindicais. Isso é opinião minha, antiga, eu sempre insisti nisso e desejei isso.
Outra coisa é a questão política. É claro que alguns partidos, alguns setores de partidos, o que eles querem é não fazer reforma, não estão com aquela preocupação nem com o trabalhador, nem com o interesse público. As centrais sindicais demonstraram que têm interesse no trabalhador e no espírito público. Analisaram as coisas. A Força Sindical teve um papel importante na dinamização dessa discussão, a CUT entendeu, alguns setores que foram lá, discutiram, viram números. Outra coisa é quem quer fazer oposição, não a mim, ao país, ao bem-estar do povo, porque estão fazendo oposição ao país.
Eu repito. Se eu não conseguir uma reforma na Previdência, para o meu governo não altera nada. O que essa reforma vai beneficiar é o futuro. Isso é que precisa passar para a opinião pública. Esta gente não está fazendo oposição nem ao governo, senão que no fundo a eles próprios. Estão perdendo o rumo. Como é que você pode ser contra uma coisa que o trabalhador reconhece que é boa para ele? Como é que você pode ser contra medidas que vão viabilizar as aposentadorias do futuro? Como é que você pode ser contra um acordo que garante as aposentadorias atuais, que garante até, no caso dos professores do ensino fundamental, a manutenção de regras? Por que vai ser contra? Para ganhar?

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