São Paulo, sexta-feira, 19 de janeiro de 1996
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Deputado desvia R$ 120 mi para Minas e causa tumulto

SÔNIA MOSSRI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O sub-relator de infra-estrutura do Orçamento da União de 1996, deputado Saraiva Felipe (PMDB-MG), descumpriu regras aprovadas pelo Congresso para alterar o projeto do Executivo e retomou práticas que levaram à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Orçamento em 1993.
Felipe destinou 37,5% das verbas disponíveis (R$ 120 milhões) para emendas para Minas Gerais, sua base eleitoral.
O relatório de infra-estrutura inclui as verbas para projetos mais disputados pelos parlamentares: DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagem), comunicações, portos, ferrovias e energia.
O equivalente a 1.118 emendas, somando R$ 11 bilhões, foram feitas para essa área. Felipe rejeitou todas elas e preferiu fazer por conta própria 234 emendas, somando R$ 320 milhões.
A reunião da comissão que analisa a proposta orçamentária do governo foi interrompida cinco vezes por causa do tumulto causado por congressistas e lobistas.
O coordenador da reunião, deputado Efraim Morais (PFL-PB), acabou realizando encontro secreto na tentativa de buscar uma alternativa ao relatório de Felipe.
Na sessão secreta, a Comissão Mista de Orçamento decidiu que o sub-relator terá de refazer o texto. Essa foi a saída para evitar sua destituição do cargo, proposta que chegou a ser examinada pelo PFL, PT, PPB, PDT e PC do B.
A Folha apurou que o presidente da comissão, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), considerou que o parecer de Felipe é desqualificado tecnicamente e prejudicaria a imagem do Congresso, lembrando atividades condenadas pela CPI do Orçamento.
O deputado Paulo Bernardo (PR) lembrou que o sub-relator desrespeitou o limite de R$ 320 milhões fixados pela comissão para emendas de parlamentares na área de infra-estrutura.
Felipe não seguiu o regimento da comissão e propôs indicações ao relator-geral do Orçamento, deputado Iberê Ferreira (PFL-RN), que somam R$ 450 milhões divididos por 122 emendas.
Para os deputados Sérgio Guerra (PSB-PE), Francisco Dornelles (PPB-RJ), Alberico Filho (PMDB-MA), Márcio Reinaldo (PPB-MG) e Hélio Rosas (PMDB-SP), o relatório como um "insulto" ao Congresso.
"Nunca vi algo assim", afirmou Dornelles. Guerra disse que o regimento não permite indicações como as realizadas por Felipe. Elas são restritas a casos excepcionais, como atividades que não foram contempladas no projeto do Executivo.
O sub-relator disse à Folha que acertou com Ferreira que as indicações de emendas seriam aprovadas no relatório geral. O pefelista disse que não houve nenhum acordo sobre isto e que seguirá integralmente os critérios e limites impostos pela comissão.
Felipe também não seguiu os novos parâmetros aprovados pelo Congresso para tramitação do Orçamento, como a prioridade para emendas coletivas ou de bancada.
Durante a reunião aberta, Paulo Bernardo pediu a Efraim que retirasse da sala os lobistas presentes. Alberico Filho provocou risos nos colegas ao afirmar que a sala iria "esvaziar pela metade".
Outro lado
Saraiva Felipe disse à Folha que pensou em renunciar ao cargo e que está arrependido de ter aceito a função.
"São pressões diárias. Os parlamentares não aceitam o critério de dar prioridade às emendas coletivas", afirmou.
Felipe disse que não fez nenhuma emenda em causa própria. Ele justificou destinar mais recursos para Minas Gerais sob o argumento de que o Estado tem a maior malha rodoviária do país.
Ele afirmou que não retomou práticas condenadas pela CPI do Orçamento, como a falta de critérios técnicos para definir emendas que seriam acolhidas pelos relatores para privilegiar parlamentares e empreiteiras.
"Há dois meses eu percebi que era inviável fazer isso por causa das pressões pelas emendas individuais", disse o deputado.

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