São Paulo, sexta-feira, 19 de janeiro de 1996
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De pai para filho

JUCA KFOURI
DE PAI PARA FILHO

O telefone toca pouco antes da meia-noite de terça-feira na casa do Guarujá.
Filho: Tudo bem, pai?
Pai: Tudo, e com você, filho?
Filho: Ah, não tá não, pai. Estão me oferecendo só 10 mil por mês. Não acho justo.
Pai: Pô, filho. Eu ganho 7 e não tô reclamando. Quanto você quer?
Filho: Ah, pai, não dá pra comparar. Eu quero 15. Pô, depois de tudo que eu fiz no ano passado.
Pai: Tá certo, filho. Larga isso aí e arruma um outro emprego. Com sorte e se você trabalhar bem direito, quem sabe vai ganhar uns 600 paus. E vai ter uma vida muito menos agitada, é claro. Pega às 8h, larga ao meio-dia, almoça em casa, volta pro emprego e vai embora às 18h. Não é legal?
Filho (irritado): Você tá de sacanagem, pai. Deixa pra lá. Por 10, eu não aceito. Amanhã eu resolvo isso por minha conta, sem precisar de seus conselhos. Boa noite.
O filho nem ouviu o pai também se despedir.
No dia seguinte, o pai recebe uma ligação do patrão do filho e fica sabendo que ambos chegaram a um acordo. "Fechamos em 12 mil por mês", conta o patrão.
*
A conversa, real, foi entre o goleiro Edinho e o ministro Pelé. O patrão, no caso, é o presidente do Santos, Samir Abdul-Hak, que, aliás, pediu um último favor a Pelé: simplesmente que ele converse com Jamelli e Giovanni para convencê-los a renovar seus contratos dentro dos limites da política de pés no chão.
*
Vida de pai, ministro e indissociável do Santos, de fato, não é fácil. Mas que Edinho estava cheio de razão, estava. E vai ficar ainda mais irritado ao saber da gostosa, e carinhosa, inconfidência do velho. Que, provavelmente, não perdoará o colunista.
*
Por que a Justiça de São Paulo autoriza a quebra do sigilo das contas telefônicas dos suspeitos de estar envolvidos com jogos de azar e o Supremo Tribunal Federal não faz o mesmo com os deputados da CPI do Bingo?
*
Ganha um doce quem responder: em que mesa adormece o livro que a Secretaria da Justiça do governo Covas organizou sobre violência nos estádios?
Daqui a pouco, será melhor fazer outro, sobre a volta da paz desde o fim das uniformizadas.

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