São Paulo, sexta-feira, 19 de janeiro de 1996
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'Quis compreender o lado obscuro'

DANIELA ROCHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Folha - Por que você quis ser Elizabeth 1ª?
Xuxa Lopes - Eu me perguntava por que a Elizabeth era considerada a rainha má. Queria compreender por que ela teria um lado obscuro e por que as pessoas falavam que ela era má. Eu não engulo essas coisas. Quis compreender o caminho humano dessa mulher e comecei a pesquisar a vida dela.
Folha - O que você descobriu?
Xuxa - Que ela teve uma infância muito pesada: foi abandonada pelo pai, Henrique 8º e sua mãe, Ana Bolena, foi decapitada quando ela tinha três anos, por ser acusada de adultério. Os acontecimentos que marcaram a infância dessa menina foram muito cruéis. Isso foi me preparando para fazer a Elizabeth. A vida foi tão dura com ela que ela teve de ser muito determinada. Ela era obstinada. Pela falta de amparo e de afeto, ela escrevia muito bem, tinha enorme capacidade de argumentação com os homens que formavam seu conselho privado, falava seis línguas.
Folha - Por isso ela queria mais a justiça que o poder?
Xuxa - É isso. Henrique 8º esperava ter um filho homem. Por ela não corresponder a isso, ela correspondeu a esse desejo enquanto governante. Elizabeth queria provar que era capaz. Ela queria reintroduzir o protestantismo na Inglaterra, eliminar a promiscuidade da Igreja católica.
Folha - Elizabeth é conhecida como "a rainha virgem".
Xuxa - Talvez a falta de amparo afetivo na adolescência fez com que ela adotasse um lado masculino, mas ela adorava os homens.
Folha - Existia um embate entre elas porque Mary Stuart tinha maior poder de sedução?
Xuxa - Sim, claro. Isso falhava completamente com Elizabeth. Mas a Mary não chegou a exercer poder como governante como a Elizabeth exerceu. O que eu acho vanguarda na Mary é essa liberdade interior para viver seu amor e o que ela queria, mas ela é punida por isso. Elizabeth não tinha respaldo emocional pra poder viver uma paixão. Mary era uma rainha desde que nasceu. A Elizabeth sempre foi rejeitada, bastarda.
Folha - Este é seu segundo trabalho com Gabriel Villela. O primeiro foi "Vem Buscar-me Que Ainda Sou Teu" (90). Hoje Villela diz estar mais protestante que católico. O que você acha?
Xuxa - Sinto que Gabriel tem uma compreensão do homem ao longo dos séculos por informação e instinto. O protestantismo traz o rigor, sem a frescura, sem o bordado, sem a renda. Acho que ele resgatou referências na Idade Média, através dos livros dele, entrando na Renascença, encontrando o protestantismo na Inglaterra.
(DR)

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