São Paulo, sexta-feira, 19 de janeiro de 1996 |
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'Amores Expressos' busca poesia no tempo
CÁSSIO STARLING CARLOS
Produção: Hong Kong, 1995 Direção: Wong Kar-wai Elenco: Brigitte Lin, Chin-Hsia e Takeshi Kaneshiro Estréia: hoje, no Espaço Unibanco de Cinema (sala 3), Morumbi 5 e circuito "Amores Expressos" está sendo saudado como um filme-revelação do cinema feito hoje no Oriente. Realizado em Hong Kong pelo diretor Wong Kar-wai, "Amores Expressos" surpreende na medida que recusa o poder do exotismo que domina os filmes "made in China" e expõe sentimentos contemporâneos, comuns aos seres de olhos puxados e a todos os outros. Superprodutiva, Hong Kong transformou-se num dos mais importantes pólos cinematográficos do mundo. Ocasionalmente, alguns talentos como John Woo e Wong Kar-wai vencem o bloqueio cultural e chegam ao Ocidente. Formado na escola do gênero mais popular do país -o filme de ação, com predominância do kung-fu e do policial-, Wong Kar-wai se distingue por uma aguda percepção do tempo. Em seu filme anterior, "Ashes of Time", ele transformava a lendária trajetória de um lutador de artes marciais numa reflexão sobre o tempo. A narrativa de "Ashes of Time" como indica o próprio título -"Cinzas do Tempo"- privilegiava o tempo pessoal, da memória, sobretudo amarga, do lutador, a quem acompanha na velhice, cego e solitário. A ela se opõe um tempo público, do qual só foram conservadas as glórias. Em "Amores Expressos", seu terceiro filme, o tempo é de novo a própria matéria da narrativa. Os personagens centrais são policiais de um tipo muito particular. Em vez de prender bandidos, eles se ocupam em salvar algo que lhes parece mais essencial -o coração. Cada um protagoniza metade da narrativa -dividida em duas histórias, mas unificada por séries de ecos. A ressonância central, para resumir, é o fato de ambos sofrerem por terem sido abandonados pela mulher que amavam. O filme articula os dois pólos do tempo. O passado é o momento da dor da perda, e o futuro, a projeção de uma reconquista ou descoberta de uma nova conquista. Em contraste com esses tempos solitários, aparece outro, contemporâneo, mundano, domínio da dissipação. É contra este estado de incessante perda que os personagens se arriscam em planos e se armam com a paixão. A graça vem dessa atenção à discordância. Wong Kar-wai traduz verdades difíceis de serem capturadas. Isso costuma se chamar poesia. Texto Anterior: 'Quando a Noite Cai' é obra de exorcismo Próximo Texto: Bomba! Mamãe, eu tô na Internet! Índice |
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