São Paulo, sábado, 20 de janeiro de 1996
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Chefe de polícia do Rio terá que se explicar a governador

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

A declaração do chefe de Polícia Civil, Hélio Luz, de que a polícia "nasceu para ser corrupta", provocou nova crise na Secretaria de Segurança do Rio.
Luz ainda disse que o sequestro de Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira Filho, filho do presidente da Firjan (Federação das Indústrias do Rio), pode ser visto pela parte pobre da população como "uma redistribuição de renda".
O governador Marcello Alencar, que estava em Petrópolis (66 km do Rio) com o presidente Fernando Henrique Cardoso, disse que interpelará Luz pessoalmente.
Irritado com as declarações, reproduzidas ontem pelo "Jornal do Brasil", o secretário de Segurança, general da reserva Nilton Cerqueira, telefonou para Luz a fim de pedir explicações.
Na conversa com Cerqueira, 65, Luz não desmentiu as declarações, mas reclamou que a publicação fugiu "ao contexto" do que teria afirmado. As declarações de Luz foram dadas anteontem, durante reunião com professores da UFRJ (Universidade Federal do Rio).
Sobre o sequestro, Luz nega ter afirmado que se tratava de uma forma de redistribuição de renda.
À Folha, Luz disse que uma mulher presente ao encontro perguntou sobre a repressão à maconha em Ipanema (zona sul). "Ela disse não considerar a questão prioritária. Argumentei que o morador da Baixada pode não considerar prioridade combater sequestros e que o caso de Eugênio, para este morador, poderia ter sido redistribuição de renda", afirmou.
O secretário não comentou a fala de Luz sobre o sequestro, ocorrido em 95, mas discordou de Luz várias vezes em entrevista ontem.
Para Cerqueira, a polícia não nasceu corrupta. Ele defendeu um efetivo de 12 mil homens para a Polícia Civil. Luz disse que gostaria de trabalhar com até 4.000.
Luz havia dito que a crise na polícia começou na primeira gestão de Leonel Brizola (83-86), quando o jogo do bicho teria passado a pagar propinas a dirigentes do Estado. O secretário não comentou a acusação, mas disse que nos dois governos brizolistas criaram-se "santuários" onde as polícias eram proibidas de trabalhar.
Luz disse na reunião que a polícia não precisa ter equipamentos "de Primeiro Mundo" que vêm sendo comprados pela secretaria. Cerqueira discordou.

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