São Paulo, sábado, 20 de janeiro de 1996
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O nome da rosa

MAURO TAGLIAFERRI

Quase passou em branco, mas o rali Granada-Dacar, encerrado no último domingo, mais uma vez deixou seu rastro de sangue no Saara. Os três mortos na edição deste ano fazem com que o saldo de cadáveres produzido por essa insensatez no deserto chegue a 35.
A última componente da lista -última até que a irresponsabilidade se repita no ano que vem- é uma guineana de três anos de idade, moradora de Labé, povoado africano pelo qual o rali passa.
A menina sofreu traumatismo craniano ao ser atropelada pelo carro do francês Marcel Pilet.
Não vamos ser hipócritas aqui e ignorar que, no automobilismo, existe, por essência, o risco de vida. Mas do piloto! Ele, sim, escolheu aventurar-se e sabe da possibilidade de sofrer um acidente.
Agora, a prática, costumeira no Granada-Dacar, de se matar espectadores foi banida da F-1 há 19 anos. Que dirá, então, invadir povoados e atropelar seus habitantes.
Só mesmo fraqueza política explica a não interferência dos governantes de Argélia, Mauritânia, Senegal e Guiné, que bem poderiam impedir a passagem do rali homicida por seus territórios.
A tempo: Marcel Pilet, a princípio, nenhuma culpa teve no acidente. O mesmo não se pode dizer da organização da prova. Omissa, assiste à sucessão de mortes sem tomar providências.
Omissa e insensível. Os promotores do Granada-Dacar não tiveram sequer a dignidade de informar o nome da menina morta.
*
Foi Geraldo Rodrigues, empresário de Rubens Barrichello, quem o disse nesta semana: "1996 não vai ser pior que 95". Será?
A grande batalha de Barrichello acontece fora das pistas: reverter a imagem de perdedor que ele herdou da temporada passada.
E isso não é fácil. Primeiro porque, quando se está estigmatizado, não adianta alegar que o carro quebrou, mesmo que seja a mais pura verdade. Para a torcida, é o piloto quem dá azar e assim por diante.
Segundo, porque a Jordan não dará ao brasileiro um carro para ganhar corridas. Simplesmente, não tem orçamento para isso.
E terceiro porque Barrichello e sua assessoria continuam com o discurso "bonzinho" de sempre. Já andam falando que aprenderam muito com os erros do passado, que o piloto tem só 23 anos etc.
Desse jeito, vão continuar satirizados pela turma do "Casseta & Planeta" todo domingo à noite.

José Henrique Mariante, em férias, volta a escrever a coluna a partir de 10 de fevereiro

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