São Paulo, sábado, 20 de janeiro de 1996
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CBF x FPF

JUCA KFOURI

Garantido por mais quatro anos de mandato, parece que, enfim, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, ganha a coragem que sempre lhe faltou para tentar mudar a face do futebol brasileiro.
A proposta da CBF de compatibilizar o calendário brasileiro ao europeu chega tarde, mas é melhor do que nunca. A reação da FPF era esperada e é provinciana.
Só no Brasil se disputam campeonatos estaduais (que a maioria prefere chamar de regionais, uma bobagem porque os torneios não são da região sul, sudeste, norte, nordeste etc).
E, já que ninguém tem a inteligência e a audácia de acabar com eles de uma vez, pelo menos surge uma proposta para diminuir seu espaço e sua capacidade de fazer mal aos grandes clubes do país.
Campeonatos estaduais sobrevivem apenas no eixo Rio-São Paulo e, Deus sabe como, a que preço, com que sacrifício aos cofres dos grandes, obrigados a subsidiar os médios e pequenos e a verem espremido aquele que poderia ser o grande filão da temporada, o Campeonato Brasileiro.
Grandes centros já provados e outros de enorme potencial -Rio Grande do Sul e Minas Gerais entre os primeiros e Paraná, Goiás, Pernambuco e Bahia, para citar só alguns, entre os segundos- passam a maior parte do ano às voltas com estaduais que condenam forças como Grêmio, Inter, Cruzeiro e Atlético ao desespero e impedem que um Bahia, um Sport, um Coritiba, um Goiás virem potências.
E, registre-se, aqui a questão não é ideológica ou de opinião. É uma constatação feita à luz das médias de público dos campeonatos estaduais, nas quais se afere que o torcedor já lhes deu as costas faz tempo, não comparecendo aos estádios.
Não se faz futebol sem pensar no mercado, por mais que os velhos pelegos e corporativistas da mais reacionária das instituições brasileiras, a cartolagem, possa querer tachar de elitista ou até de neo-liberal semelhante constatação.
O fato é que até a Copa do Brasil, uma competição relativamente nova, já se tornou mais importante e valiosa que os estaduais.
E o Campeonato Brasileiro só não foi até hoje tudo o que poderia ser exatamente porque é espremido num calendário burro, que sacrifica quem tem massa para lotar estádios e craques para exibir.
Mexer no calendário é mexer nos privilégios dos chefetes das federações. Já era hora.

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