São Paulo, sábado, 20 de janeiro de 1996
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No varejo das reformas

A flagrante derrota do governo na votação da proposta de contribuição previdenciária para os servidores federais mostrou o quanto a fidelidade de sua base parlamentar ainda está sujeita a incertezas.
Talvez o presidente tenha pecado por excesso de confiança ao fazer crer, na entrevista de quarta-feira, que os problemas com a oposição e os aliados se resumiriam a "uma inquietação aqui, outra ali". Os parlamentares deram um claro recado em direção oposta.
Não bastará ao governo contar com tantos partidos aliados (e poucos presidentes lograram alcançar tão extenso leque de sustentação). Será necessário antes saber administrar essa maioria, não apenas no "atacado" das idéias gerais, mas também no "varejo" das indicações de cargos e liberações de verbas.
A fidelidade dessa base partidária dependerá também do grau de impopularidade das propostas que forem encaminhadas. Parlamentares candidatos nas eleições municipais certamente não subirão aos palanques para mostrar "o que nós estamos fazendo" se esses feitos pesarem no bolso dos eleitores.
Por fim, a primeira derrota do governo na Câmara em 96 pode estar representando um demonstração de força do Legislativo, no sentido de alertar que não bastará ao Executivo alinhavar acordos com as centrais sindicais. A sempre desejável participação de entidades da sociedade civil na agenda das reformas não deve garantir a adesão incondicional dos parlamentares.
Afeito, por sua própria origem acadêmica, a um fluente domínio das grandes teses, o presidente terá de demonstrar agora a mesma agilidade no trato das pequenas e grandes demandas do Congresso.

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