São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 1996
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Ambiente pré-Real é base

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O economista Joaquim Elói de Toledo considerou, para calcular o imposto inflacionário, o ambiente existente pouco antes da introdução do Plano Real, o primeiro semestre de 1994.
Tomando números aproximados, considerou uma inflação mensal de 40%, que impunha uma desvalorização a três itens: o dinheiro em circulação, os depósitos à vista, não-remunerados, nos bancos, e os recursos que os bancos tinham de deixar depositados no Banco Central.
Esses três itens representavam 1,5% do PIB. A desvalorização desse dinheiro não ocorria de uma só vez. Dependia de quanto o tempo o dinheiro ficava parado nas mãos do titular.
Assim, um trabalhador que recebesse mil cruzeiros e gastasse tudo no mesmo dia, não teria sofrido perda. Se, ao contrário, gastasse tudo no último dia do mês, teria sofrido a perda de toda a inflação daquele período de 30 dias.
Perda
Uma pela outra, Toledo calcula que, com inflação de 40% por mês, o dinheiro e os depósitos sofriam uma perda de um terço de seu valor. Isso dá um imposto inflacionário, uma perda de valor aquisitivo, de 6% do PIB.
Desse total, nota Toledo, 4% eram apropriados pelo Banco Central e os outros 2% pelos bancos.
Só que os bancos, observa o economista, devolviam boa parte disso ao público, não cobrando tarifas pelos serviços, ou ao governo.
Assim, conclui, com a estabilidade da moeda, o setor privado não financeiro deixou de perder pelo menos cerca de 4% do PIB. Em dinheiro de hoje, seriam R$ 25,5 bilhões por ano.
Com a inflação atual, de 1,5% ao mês em média, e considerando que as pessoas carregam mais dinheiro no bolso e deixam mais em depósito à vista, pois não é preciso fugir da desvalorização diária, Toledo calcula que o imposto inflacionário está em 0,4% do PIB, ou R$ 2,5 bilhões no ano.
Assim, o ganho líquido de renda disponível para consumo é de R$ 23 bilhões/ano. Quem ganhou? Ou, feita a pergunta pelo inverso, quem mais perdia?
Quem Perdia
Para Toledo, não há dúvida de que o imposto inflacionário é o mais regressivo, isto é, pune mais os pobres, que não tinham conta bancária ou, tendo, não conseguiam acesso a aplicações.
A perda ainda é maior para os de menor renda. Por exemplo: uma pessoa que ganhasse 140 cruzeiros e carregasse no bolso, todo dia, 14 cruzeiros, teria uma perda diária incidente sobre 10% de sua renda.
Além disso, Toledo indica que havia um outro tipo de imposto inflacionário, aplicado sobre Caderneta de Poupança, FGTS e Pis-Pasep. Esses fundos eram corrigidos, mas com defasagem.
(CAS)

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