São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 1996
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Privatização da Petrobrás

MARCOS CINTRA

O geofísico José Cláuver de Aguiar Júnior, no artigo "Petrobrás: A Próxima Vítima", na edição de 16/01/96 desta Folha, expressa o mais puro e retrógrado corporativismo encastelado na cúpula das associações de classe das empresas estatais. Sua manifestação é, no mínimo, contraditória.
Ora, se a Petrobrás é detentora da tecnologia de aproveitamento de jazidas sob águas profundas mais avançada do mundo, por que temer sua privatização e a competição de outras empresas privadas?
Pois dominar, com exclusividade, uma tecnologia dessas, já significa, de saída, enorme vantagem em relação a outras operadoras do setor.
A não ser que sua eficiência e seu futuro estejam condicionados ao guarda-chuva do monopólio estatal e ao aporte financeiro do governo, suportado pelo contribuinte.
Senão, abrir o mercado e privatizar essa empresa constituirá a maior prova de sua superioridade tecnológica e operacional.
A alegada eficiência da Petrobrás é produto de bem montada estratégia de marketing, pois o verdadeiro teste, a concorrência, jamais foi aplicado.
Mas o Sr. Cláuver pode ficar tranquilo. O anteprojeto do Ministério de Minas e Energia, de regulamentação da flexibilização da política de petróleo, reserva tanto privilégio à Petrobrás que assegura sua posição monopolística. Ou seja, dá fiel cumprimento à promessa do presidente da República de que fica tudo como está.
A não ser que as declarações do presidente do BNDES, Luiz Carlos Mendonça de Barros, de que seria fantástico para o Brasil ver a Petrobrás privatizada ainda neste governo, sejam autorizadas por FHC, estaria havendo mais uma contradição dentro do governo, inaceitável em matéria dessa importância.
E finalmente, um desafio: no dia em que os funcionários da Petrobrás abrirem mão de seus privilégios e vantagens trabalhistas, e dispuserem-se a aceitar mesmas condições de trabalho do setor privado, aí então o discurso nacionalista e o interesse social que alegam estar defendendo poderão adquirir alguma credibilidade.
Antes disso, tudo cheira advocacia em causa própria.

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