São Paulo, segunda-feira, 22 de janeiro de 1996
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Os 13 apóstolos

JUCA KFOURI

O almoço começa com as palavras do número 1: - Estamos reunidos para encontrar a saída para o nosso futebol. Como está não dá para continuar. Estamos praticamente falidos.
O número 2 intervém para dizer que a solução talvez esteja no novo calendário que o presidente está elaborando lá se vão seis anos.
- Ficou louco, reage o número 3. - Pela proposta dele as férias serão no frio e minha mulher não vai gostar!
Conciliador, o número 4 propõe uma nova reunião só para debater o calendário.
- Impossível, responde o número 5. - Neste final de semana meu time joga o Torneio Início e tem um amistoso em Maringá. Na terça-feira fazemos o primeiro jogo do Torneio de Verão e, se ganharmos, decidiremos o título na quarta. Quinta tem a estréia do Animal e sábado começa o Paulistão. Vê lá se eu tenho tempo pra discutir o calendário.
O número 6, então, aproveita para lembrar dos gramados, que seu técnico não pára de reclamar.
É interrompido pelo número 7. - Se eu for gastar com reformas de gramado não sobra para renovar com o Giovanni.
Foi o suficiente para o número 6 voltar à carga, orgulhoso dos negócios que faz. - Acabei de empurrar, por 300 paus, um jogador que não estava nos planos do meu técnico.
- Uai, pois eu, por esses mesmos 300 mil, peguei emprestado o melhor meia-direita do país em 1993, um campeão da Libertadores e do Mundial, retruca o número 8.
- Invejo vocês, diz o número 9. - Eu quero ver é se voltamos a usar a nossa antiga camisa. Com a nova não ganhei nada no ano passado.
- Bobagem, argumenta o número 10. - Foi só o meu patrocinador pôr aquele logotipo horroso na camisa do meu time para que nós ganhássemos o Campeonato Brasileiro.
- Tá certo, concorda o número 9. - Talvez a solução para o meu time, que já tem um dos dois melhores do mundo, seja contratar o outro.
- O Giovanni eu não vendo!
- O Rivaldo é inegociável!, indigna-se o número 11.
- Não vendo o Marcelinho nem devolvo o Edmundo.
Mais calmo, o número 6 pondera que o Milan jamais venderia o Weah.
- Uéáá, na minha terra, é breque de burro. Estou falando do Maradona, pô!
O décimo-segundo já se preparava para explicar as dificuldades de convivência entre as duas estrelas quando foram interrompidos pelo nobre deputado, o número 13.
- Bingo!!! Achei a solução. Vamos cortar os bichos desses mercenários.
Após os aplausos gerais voltaram à refeição. O futebol brasileiro estava salvo.
*
O texto acima é do leitor Gilberto Gil Camargo.

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