São Paulo, segunda-feira, 22 de janeiro de 1996
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Palmeiras surpreende pelo bom futebol

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Se é esse o jogo que o Palmeiras tem para mostrar nesta temporada, sai de baixo. Pois na apresentação do novo time, sexta à noite, diante de um Grêmio completo, os jogadores palmeirenses pareciam ter asas nos pés e a alma plena de inspiração. Ganharam de 2 a 1, em fulgurante virada, mas poderiam ter encerrado o caso com uma goleada histórica, não fossem as traves e a brilhante atuação do goleiro reserva (reserva?) de Danrlei, Murilo.
O surpreendente não foi apenas o estado atlético da equipe, que, nos anos 60 e 70, por exemplo, poderiam até causar apreensão, com aquela velha história de virar o fio. Mas, depois que o São Paulo, sob o comando de Moracy Sant'Ana, varou aqueles dois anos inesquecíveis de conquistas sobre conquistas, isso parece mesmo coisa do passado. O fato é que Cafu, Muller, Rivaldo e Luisão simplesmente voaram durante todo o jogo.
Mais que isso, porém, foi o ajuste tático-técnico do time, ainda que desfalcado de Djalminha, parceiro de Luisão no Guarani, e da dupla de meio-campo Flávio Conceição e Amaral. E é aqui que entro para explicar a fluência e velocidade com que o Palmeiras saía da defesa para o ataque, diante de um time entrosadíssimo e célebre pela dureza na marcação, como o Grêmio. Quem me garante que o segredo disso não estava exatamente na presença de Cafu como segundo volante? Explico: Cafu, desde que foi para o Palmeiras, ou joga pela lateral ou como terceiro volante. Na lateral, seu imenso potencial físico e técnico limita-se àquela faixa vertical paralela à risca do campo. Como terceiro volante, ou quarto atacante, como queiram, cai numa região conflagrada do campo, onde se exige outro tipo de habilidade -o drible curto, a tabela rápida, o lançamento à meia-distância, a penetração de tiro curto, via fintas e meneios. Vindo de trás, porém, depois de cumprir com proficiência a tarefa de combater à entrada de sua área, Cafu chega pleno ao ataque. E o time ganha dois meias mais habilidosos para conferir maior agressividade ao ataque, arrasador com Muller e Luisão, que caiu como uma luva no espaço desprezado por Evair.
Claro que tudo isso pode ter sido apenas uma noite inspirada de verão. Mas não parece.
*
Já o Flamengo mostrou suas cartas na abertura do Torneio Euro-América, contra o Borussia, num pálido empate de 1 a 1, com Romário marcando um gol ao seu estilo e perdendo um pênalti. E o único trunfo foi o toque de profissionalismo que Joel Santana parece ter dado. O Fla é apenas mais competitivo, mais organizado, mais sério do que aquele simulacro de esquadrão dos sonhos de 1995.
Sem pretender ser cruel, porém, a impressão que deixou é de apenas mais um time, grande pela gloriosa camisa que o reveste, poderoso pela torcida, mas apenas mais um pelos jogadores que tem.
A não ser que Romário respire fundo esses novos ares. Aí, então, o Flamengo poderá, ainda que tarde, viver o sonho desfeito pela dura realidade.

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