São Paulo, segunda-feira, 22 de janeiro de 1996 |
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Guitarra sem legenda
EDSON FRANCO
Se você tem alguma afinidade com guitarras e não consegue ler inglês, desembolse R$ 5 e leve-a pra casa. Lançada pela Trama Editorial, a "Guitar Player-Brasil" é uma compilação com 70% de textos traduzidos do original americano e o resto produzido aqui no Brasil. Ela já chega ao mercado ganhando fácil o título de melhor revista didático-musical do Brasil. E é fácil entender por quê. Assim como a matriz americana, a versão nacional procura municiar o guitarrista com as ferramentas para que ele desenvolva seu próprio estilo. Nela, você não vai encontrar aquele solo que o Slash faz em "Sweet Child O'Mine", por exemplo, procedimento adotado pela maioria das publicações charlatonas disponíveis no mercado. Em vez disso, a revista mostra quais escalas foram tocadas, que guitarra e amplificadores os profissionais usam e até detalhes sobre estúdios e gravações. É isso aí, a "Guitar Player-Brasil" não dá o peixe, mas ensina a pescar. Em seu primeiro número, ela traz na capa o guitarrista ítalo-americano Steve Vai. São sete páginas com uma entrevista produzida no Brasil, intercaladas por exercícios recomendados pelo guitarrista. Prepare seus dedos para sofrer. As primeiras páginas são constituídas de notas e breves perfis de músicos brasileiros (a maioria) e estrangeiros. Como primeira tradução de fôlego, a revista traz um artigo sobre como ganhar a vida tocando guitarra. E aí ela comete um de seus poucos pecados. A menos que você pretenda se mudar para os EUA, essa matéria tem muito pouca pertinência. Por exemplo: o artigo recomenda que os músicos de estúdio levem para as gravações uma guitarra telecaster, outra stratocaster e ainda uma tipo Gibson Les Paul. É difícil imaginar no Brasil um guitarrista de estúdio que consiga, com o fruto do seu trabalho, comprar três guitarras como essas. Outro trecho mostra como os EUA é o paraíso dos músicos. Lá existe um sindicato que obriga os estúdios a seguirem uma tabela. Para cada três horas, o músico recebe US$ 280. Em gravações demoradas, um guitarrista de estúdio pode, após um dia de trabalho, levar US$ 1.000 para casa. Já no Brasil, há músicos afamados, com disco gravado, que mal conseguem levantar esse valor em uma semana. A revista deveria ter contemplado nossa realidade. Passado esse problema de adaptação, a versão nacional traz uma seleção com o melhor da "Guitar Player" americana. Tem uma coluna com CDs lançados por guitarristas do mundo todo. É leitura obrigatória para donos de gravadora. Traduzidos da versão americana, os testes de equipamentos são os mais confiáveis do mercado. Se a guitarra, amplificador ou unidade de efeitos passarem pela malha fina da revista, pode comprar de olhos fechados. A "Guitar Player-Brasil" tem ainda colunas sobre novos equipamentos, conserto de instrumentos e músicos emergentes. Mas o melhor mesmo são as aulas. Tem material para o completo iniciante e para o virtuose. O fato de a maioria dos professores ser de brasileiros é OK. A revista só deveria ter reservado mais espaço para as dicas fundamentais dos músicos americanos. Tomara que a "Guitar Player-Brasil" herde da sua irmã do hemisfério norte a longevidade. Texto Anterior: Briga de Marvel e DC é antiga Próximo Texto: Publicação é a bíblia Índice |
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