São Paulo, sexta-feira, 26 de janeiro de 1996
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Dobrando o cabo

Não há dúvidas de que para haver transparência nas democracias é preciso que os três Poderes regularmente prestem contas de seus atos à nação. Mas a interferência de ambições pessoais pode fazer com que essa obrigação descambe em puro propagandismo.
Como se não bastasse a compulsória e indesejável interrupção diária na programação das rádios para a transmissão de notícias oficiais, o governo federal ainda promete lançar em julho deste ano um canal de televisão a cabo para a divulgação institucional de atos dos três Poderes (à exceção do Senado, que já está criando seu próprio canal).
Mesmo alegando que a Radiobrás já dispõe de maquinário para as atividades do novo veículo, o governo certamente não há de ignorar que a produção e transmissão dos programas, assim como os anunciados convênios com os órgãos que utilizariam o canal, serão afinal custeados pelas mesmas e minguadas verbas públicas.
Em vez de ampliar a divulgação oficial e os gastos decorrentes melhor seria racioná-los, tendo em conta o que é necessário aos cidadãos e compatível com o Orçamento da União. Por que, por exemplo, não permitir que as emissoras se revezem na transmissão da "Voz do Brasil", dando assim opções tanto aos que não têm acesso à informação escrita quanto àqueles que não desejam ouvir notícias às 19h?
Há um limite pouco definido entre prestação de contas e propaganda oficial. Mas esta é quase sempre mais onerosa que aquela, e menos respeitosa para com o cidadão.

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