São Paulo, sexta-feira, 26 de janeiro de 1996
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Uma rajada de balas

VAGUINALDO MARINHEIRO

SÃO PAULO - Cuidado ao andar nas ruas, cuidado ao entrar nos bancos. A julgar por esta semana, São Paulo está mais próxima das cidades dos "westerns" do cinema americano que de uma idosa senhora de recém-completados 442 anos.
A série de tiroteios começou na segunda-feira, às 10h, quando ladrões de carros-fortes (as diligências dos tempos modernos) e seguranças trocaram tiros em plena rua, na região de Santo Amaro (zona sul). Cena final: três mortos, entre eles um menino de 15 anos, que estava na fila esperando a abertura da agência bancária.
Na terça à noite foi a vez de policiais civis trocarem rajadas de balas com outros ladrões de carros-fortes, também na rua, próximo ao Ceagesp (zona oeste). Cena final: dois assaltantes mortos.
Quarta-feira, 9h30, rua Doutor Arnaldo (zona oeste), uma das mais movimentadas da cidade. Mais uma vez a PM sai em disparada atrás de bandidos. Cena final: mais de 40 tiros disparados, floristas que trabalham em frente ao cemitério se atirando ao chão e três ladrões mortos.
Aos números de balas disparadas nas ruas devem ser acrescidos os de roubos a bancos. Considerados nos anos 70 crimes contra a segurança nacional e cometidos por terroristas, hoje esse tipo de crime virou coisa de menores, como os office boys de 16 e 17 anos que tentaram na segunda-feira assaltar a agência do Sudameris da avenida Ibirapuera (zona sul).
Só no mês de dezembro foram 79 assaltos a bancos, 243% a mais que o registrado há dois anos.
O xerife dessa cidade do velho leste brasileiro, o secretário da Segurança Pública José Afonso da Silva, afirma que não há explicação para o que aconteceu esta semana e que a polícia é orientada a evitar tiroteios em áreas de grande movimentação.
Mais que isso, as pessoas que viram coadjuvantes nos tiroteios esperam que o secretário consiga mudar o "script" e o gênero desse filme. Um dia após seu aniversário, São Paulo merece ser cenário de uma comédia romântica.

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