São Paulo, quarta-feira, 31 de janeiro de 1996
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Governo atende Vicentinho e adia votação da Previdência

SHIRLEY EMERICK; DENISE MADUEÑO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, conseguiu adiar por mais uma semana a votação da proposta de reforma da Previdência.
O governo recuou e atendeu ao pedido de Vicentinho para tentar manter o apoio da CUT nos outros projetos de reforma da Constituição, como a reforma administrativa e tributária.
Pesou ainda na decisão o argumento do ministro do Trabalho, Paulo Paiva, de que o governo precisa do apoio da CUT para aprovar a redução dos encargos sociais das empresas, projeto que será encaminhado ao Congresso. A idéia é facilitar a contratação de trabalhadores.
"Foi mais um passo que se deu para propiciar o debate. O prazo dá fôlego para continuar a negociação", disse Vicentinho, que, antes da reunião, pleiteava um adiamento por 30 dias.
"Está embutido, no futuro, a reforma administrativa, tributária e fiscal. Queremos um acordo que prevaleça não apenas para esta votação", disse o líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE).
A decisão provocou um racha na oposição. O PDT e o PC do B anunciaram a saída das negociações porque não concordaram com o prazo de apenas uma semana. Já o PT considerou que houve mais abertura para discussão.
A reunião do fórum na Câmara, com participação de centrais sindicais, representantes do governo e parlamentares, começou com os líderes governistas determinados a manter a votação para as 18h.
A orientação partiu do próprio presidente Fernando Henrique Cardoso no café da manhã com os líderes de sua base de apoio.
A mudança ocorreu após o governo avaliar que iniciar imediatamente a votação poderia enfraquecer Vicentinho na reunião da Direção Nacional da CUT, no próximo final de semana, e afastar definitivamente um aliado importante para discussões futuras.
Foi o próprio Vicentinho quem argumentou que a reunião da Direção Nacional da CUT, nos dias 3 e 4 de fevereiro, era importante. O encontro definirá se a direção da central concorda ou não com os pontos acertados por Vicentinho.
Além disso, o governo ponderou a necessidade de manter Vicentinho a favor da emenda da Previdência durante a votação no plenário da Câmara, etapa posterior à aprovação na comissão. No plenário, o governo precisa de 308 votos favoráveis, em duas votações, para alterar a Constituição.
Durante esta semana, representantes dos partidos e das centrais sindicais vão se reunir com os ministros Reinhold Stephanes (Previdência) e Paulo Paiva (Trabalho) para acertar a redação final do acordo que deve ser acatado pelo relator, Euler Ribeiro (PMDB-AM).
"É fundamental que tudo esteja no papel. Preto no branco. Gato escaldado tem medo de água fria", disse Vicentinho. A CUT já elaborou um esboço do texto com dez pontos de mudança.
Antes da reunião do fórum, Stephanes declarou que dar tempo para negociar significava "protelar" a reforma. No final do encontro, mudou de idéia. "Se tem um projeto que tem vida longa para o país, uma semana a mais ou uma a menos não faz diferença."
Na reunião, alguns participantes, como o ministro Paulo Paiva e o deputado José Genoino (PT-SP), articularam o adiamento de uma semana. Genoino afirmou que a alteração do calendário seria uma demonstração de boa vontade do governo. Em uma sala ao lado, os governistas se reuniram para tentar justificar o recuo.
FHC foi consultado por telefone. Ele pediu aos líderes que ouvissem o presidente da Força Sindical, Luiz Antônio de Medeiros, antes de tomarem uma decisão. Com a aprovação de Vicentinho e Medeiros, o presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), anunciou o adiamento.

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