São Paulo, quarta-feira, 31 de janeiro de 1996 |
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BC abre caminho para dólar superar R$ 1
GUSTAVO PATÚ
Foram mudados o piso de R$ 0,91 e o teto de R$ 0,99, para R$ 0,97 e R$ 1,06, respectivamente. No teto, a correção foi de 7%. A nova cotação do dólar, que vale a partir de hoje, ajuda o desempenho das exportações, uma vez que o produto brasileiro fica mais barato no exterior. Segundo o Ministério da Indústria e do Comércio, as exportações na quarta semana deste mês totalizaram US$ 784 milhões (US$ 866 milhões na semana anterior). Para permitir que US$ 1 seja equivalente a mais de R$ 1, o governo revogou resolução do CMN (Conselho Monetário Nacional) que vigorava desde o início do Plano Real -em julho de 1994. Essa resolução determinava que o BC não deixaria a cotação do dólar ultrapassar R$ 1. Foi a terceira mudança promovida pelo governo nos limites oficiais para o câmbio, adotados em março de 95. Antes dessa política de desvalorização, o dólar chegou a ser cotado a R$ 0,82. Segundo a assessoria do Ministério da Fazenda, a decisão de alterar a banda foi tomada ontem em reunião extraordinária do CMN, com a presença dos ministros Pedro Malan, José Serra (Planejamento) e do presidente do BC, Gustavo Loyola. Malan considerou a mudança "tranquila e igual às outras já feitas na banda cambial". Os novos limites para o dólar não significam que a moeda americana subirá de forma brusca. O novo piso, por exemplo, já vigorava na prática: nos leilões de compra e venda da moeda americana feitas pelo BC, o banco não vinha deixando que o dólar ficasse abaixo de R$ 0,978. O diretor de Assuntos Internacionais do BC, Gustavo Franco, que anunciou a mudança, já tinha ontem argumentos prontos para explicar o fato de a cotação do dólar ultrapassar R$ 1. "Moeda forte é inflação baixa", disse. "A moeda mais forte hoje é o iene, e US$ 1 vale 100 ienes", comparou. Manter a cotação do dólar baixa é a principal estratégia de combate à inflação do Plano Real -é a chamada âncora cambial. Dessa forma se reduz, por exemplo, o preço dos produtos importados. Entretanto, essa tática -adotada também em países como México e Argentina- produz o efeito colateral de desestimular as exportações e gerar a ameaça de perda de dólares em virtude de déficits comerciais persistentes. Por isso, desde março do ano passado o BC vem desvalorizando gradualmente o real, com variação próxima à da inflação. Ainda assim, em 1995 as importações brasileiras superaram as exportações em cerca de US$ 3 bilhões. Gustavo Franco disse ontem que o governo não deseja, neste ano, um déficit em conta-corrente -que inclui a balança comercial e os pagamentos de juros da dívida externa- superior a 3% do PIB (Produto Interno Bruto). Isso significa que o governo quer um déficit comercial menor, porque as despesas com juros da dívida não podem ser reduzidas. Texto Anterior: Brindeiro vê processo para Calmon de Sá Próximo Texto: Governo sinaliza ao mercado Índice |
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